Nova “superbebida” com cetona poderia oferecer mais energia ao corpo para o alto rendimento esportivo, porém faltam estudos que comprovem eficácia do suplemento
Para melhorar o rendimento esportivo, cada vez surgem novos instrumentos para os atletas: técnicas de treinamento, roupas especiais e suplementos. Mas é necessária cautela e muita pesquisa científica para avaliar os resultados sobre o corpo humano.
A FUNIBER patrocina o Doutorado em Atividade Física e Esportes com o objetivo de ampliar a formação de profissionais e docentes aptos para o estudo científico de qualidade e com rigor. Neste âmbito, um estudo recente, publicado pela revista Frontiers in Physiology mostra algumas interrogantes sobre um suplemento que vem se tornando uma prática entre os atletas: HVMN, uma bebida composta de cetona.
A bebida foi criada por uma startup norte-americana, localizada em San Francisco. Com estudos de pesquisadores da Universidade de Oxford, e um investimento de 60 milhões de dólares, a bebida é vendida como um marco para quem quer melhorar o desempenho em exercícios de alta intensidade.
“Não é uma gordura, não é uma proteína, não é um carboidrato, mas provê de energia ao corpo”, afirmou o co-fundador da iniciativa, Geoff Woo.
A cetona no corpo
Durante atividades físicas mais intensas e prolongadas, o corpo busca energia nos carboidratos. Como explicou a especialista nutricionista para o jornal El País, Sara Martínez Esteban, “as reservas de glicogênio presentes no fígado e músculos se finalizam em algumas poucas horas de exercício, dependendo da intensidade da atividade, e em grande medida, da quantidade ingerida de carboidratos através da dieta e da massa muscular do indivíduo”.
Quando se acaba esta fonte de energia principal, o corpo busca outra fonte de energia: as gorduras. Neste processo, o corpo cria umas moléculas chamadas “corpos cetônicos”. Estes servem de nutriente para o cérebro e para outros órgãos do corpo, comenta a nutricionista.
Como um processo natural do corpo, a cetona ajuda para que o corpo possa render mais. Porém, numa bebida, a cetona a partir de suplemento teria os mesmos efeitos, ou outros ainda desconhecidos?
“Levar uma dieta cetogênica, não somente vai produzir uma sintomatologia própria de uma cetose: halitose (parte dos corpos cetônicos podem liberar-se através da boca), forte cheiro na urina, tonteiras, dores de cabeça, cansaço e até chegar a um estado de cetoacidose (excesso de acumulação de corpos cetônicos no sangue)”, explica a nutricionista.
Benefícios reais?
Alguns estudos como o publicado na revista Frontiers in Physiology, realizado pelo Instituto Australiano de Esportes, mostraram que os efeitos para o alto rendimento são relativos. Os pesquisadores fizeram uma prova com dez ciclistas profissionais. O experimento foi realizado durante dois dias em que todos tomaram cetona em algum momento.
Os resultados foram unânimes entre os dez participantes: eles tiveram piores resultados, com a diminuição de 2% do tempo e uma produção de energia quase 4% menor.
A diretora de nutrição do instituto que realizou o estudo, Louise Burke, afirmou: “Todo o mundo quer respostas simples, mas os mecanismos do corpo são muito complexos para permitir isso, especialmente durante a atividade esportiva”.
Fonte: Halitosis y otros efectos secundarios de la superbebida que “mejora” el rendimiento físico
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