Programa criado pelo governo finlandês conseguiu diminuir os casos de assédio escolar, atuando especialmente sobre o apoio do grupo de alunos às vítimas
Programa para a Avaliação Internacional de Alunos (PISA) incluiu em 2015 perguntas sobre o bem-estar dos alunos, em algumas questões que esperavam conhecer os níveis de motivação, pertencimento e ansiedade. O questionário foi respondido por aluno de 15 anos, e as respostas alertaram.
Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), responsável pela organização do PISA, “para alguns alunos, a escola é lugar de tortura”, explica no relatório Volume III Pisa, 2015. Os resultados mostram que 4% dos estudantes de 15 anos da organização, que reúne países de alto desenvolvimento, afirmam sofrer agressões em sala de aula. E 11% afirmaram ser alvo de zombarias.
O assédio na escola não muda segundo o rendimento escolar, e até mesmo em sistemas educacionais com melhores notas no PISA mostraram queixas de bullying por parte dos alunos.
A professora de Psicologia da Universidade de Turku, na Finlândia, Christina Salmivalli vem pesquisando este tema há mais de 25 anos. Ela está à frente de um programa em desenvolvimento nos colégios finlandeses para a prevenção e a intervenção de casos de assédio escolar.
Numa entrevista para o jornal El País, a professora conta que a partir deste programa, criou-se uma ferramenta chamada KiVa (sigla para kiusaamista vastaan, que significa “contra o assédio” em finlandês). Com este instrumento é possível trabalhar as emoções vividas na escola com lições mensais e jogos de computador.
O foco principal desta ferramenta é trabalhar com a plateia, porque a professora finlandesa percebeu que atuar sobre o assediador ou a vítima não vinha produzindo efeitos positivos. Então, eles decidiram trabalhar com a plateia, que é fundamental no processo de assédio.
“Os pesquisadores concordam que uma das principais razões do assédio escolar é a grande necessidade de status, visibilidade e domínio de alguns alunos”, afirmou Salmivalli. Então, ao trabalhar com o grupo de alunos, entende-se que a mudança positiva acontece no comportamento de toda a classe ao reduzir a recompensa dada aos assediadores pelo grupo.
Nas lições mensais, a ferramenta trabalha sobre as emoções e o respeito nas relações. O objetivo, segundo a professora, é melhorar a consciência do papel de testemunha e espectador nos casos de assédio e como os alunos podem apoiar os colegas vulneráveis.
A ferramenta também conta com ações específicas usadas nos casos de assédio, que estabelece a formação de um grupo de escolares para acompanhar o caso com a vítima e o assediador, e estabelecer alunos populares para estimular e apoiar a vítima.
Segundo a professora Salmivalli, após a aplicação da ferramenta em 234 escolas, com 30 mil alunos, eles podem afirmar que foi possível reduzir o assédio. Em números, avaliam que diminuíram 79,4% dos casos e 18,5% de intensidade das situações.
Os profissionais interessados em conhecer mais sobre a aplicação da psicologia em sala de aula podem optar pelo Mestrado em Intervenção Psicológica no Desenvolvimento e na Educação, patrocinado pela FUNIBER.
Fonte:
Metade da população entre 13 e 15 anos sofre agressões na escola, diz informe
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