O treino da força beneficia ou prejudica os atletas?

O treino da força é amplamente reconhecido como uma ferramenta eficaz para melhorar o desempenho desportivo e reduzir o risco de lesões. No entanto, existe alguma controvérsia quanto à forma como este tipo de treino pode afetar o desempenho dos atletas em termos de velocidade e resistência.

Alguns acreditam que o aumento da resistência e da massa muscular através do treino de força pode melhorar o desempenho, enquanto outros argumentam que pode prejudicar a resistência ou a velocidade. Um artigo publicado na revista Sports Medicine, intitulado «Optimising Resistance Training for Sprint and Endurance Athletes: balancing positive and negative adaptations», aborda de forma exaustiva as adaptações positivas e negativas do treino de força em atletas.

Benefícios e desafios do treino de força

O treino da força é normalmente utilizado como complemento do treino específico do desporto, com o objetivo de melhorar o desempenho e reduzir o risco de lesões. Promove adaptações neuromusculares que podem influenciar estes resultados, tais como alterações na ativação das unidades motoras, na coordenação intermuscular e na arquitetura muscular. Estas adaptações variam de acordo com o programa de treino, incluindo a carga, o volume e o modo de contração.

A hipertrofia muscular, ou seja, o aumento da massa muscular, é também um resultado desejável deste treino em atletas, uma vez que está associada a uma maior produção de força máxima. No entanto, em indivíduos menos treinados, a relação entre o aumento da massa muscular e a força máxima ou o desempenho atlético pode ser menos evidente. Além disso, o aumento da massa muscular pode ter benefícios para o desempenho desportivo em alguns casos, mas não em todos.

Alguns praticantes impõem volumes substanciais de treino de força para otimizar o desempenho, com base na ideia de que «maior é melhor». No entanto, outros acreditam que nem sempre induz adaptações benéficas e recomendam utilizar pouco ou nada deste treino. Alguns atletas de elite evitam-no mesmo por acreditarem que pode atrasá-los ou aumentar o risco de lesões. No entanto, estas afirmações ainda não estão totalmente definidas. Por conseguinte, o estudo acima mencionado aborda esta questão para fornecer uma visão geral.

Como foi realizado o estudo?

Foi realizada uma revisão de textos que examinam as diferentes adaptações neuromusculares que ocorrem com o treino, tais como alterações na ativação das unidades motoras e na arquitetura muscular. Foi também investigada a relação entre o aumento da massa muscular e a força máxima em atletas treinados e menos treinados. Para além disso, foi analisada a probabilidade de ocorrência destas adaptações benéficas ou prejudiciais.

Um atleta de elite que treina para melhorar a força, a resistência e a velocidade.
Em geral, o treino da força melhora o desempenho, a resistência e reduz o risco de lesões. No entanto, os atletas de elite requerem abordagens mais específicas para equilibrar as adaptações do treino.

Principais conclusões

Os resultados mostraram que o treino de força pode gerar adaptações que melhoram o desempenho de sprint e resistência, bem como reduzir o risco de lesões. Por exemplo, as adaptações neurais, como a redução dos limiares de recrutamento das unidades motoras e a inibição intracortical, podem ter efeitos benéficos no desempenho e na resistência, melhorando a taxa de desenvolvimento da força e a geração da força máxima. Em geral, as adaptações benéficas do treino da força superam as potenciais consequências prejudiciais, especialmente em indivíduos mal treinados.

Impacto na velocidade e na resistência

No entanto, também foram identificadas adaptações que podem ter um impacto negativo no desempenho e aumentar o risco de lesões. Embora o aumento da força e da massa muscular possa ser benéfico para melhorar o desempenho máximo, o aumento excessivo da massa muscular pode ter um impacto negativo no desempenho da velocidade e da resistência. Isto porque um aumento significativo da massa do corpo ou dos membros pode afetar a mecânica do movimento e a coordenação muscular.

Além disso, o treino de força influencia a estrutura muscular, a tipologia das fibras musculares e a estrutura muscular a nível microscópico. Estes fatores podem ter um impacto na velocidade e na resistência dos atletas. Por exemplo, o aumento do comprimento das fibras musculares e do teor de fibras do tipo IIx pode maximizar a velocidade em detrimento da resistência. Por outro lado, o aumento da transmissão de força intracelular, da densidade de empacotamento dos miofilamentos e dos braços de momento internos pode aumentar a força, mas à custa da velocidade máxima de movimento.

Programas de treino eficazes

Por conseguinte, é essencial ter em conta as soluções de compromisso adaptativas. A conceção de programas de treino deve equilibrar cuidadosamente os ganhos de força e massa muscular com os potenciais efeitos negativos no desempenho aeróbico e de velocidade. Isto implica avaliar as necessidades específicas de cada atleta e adaptar o treino para otimizar o desempenho sem comprometer outras capacidades físicas. Para os atletas menos treinados, o treino de força geralmente melhora o desempenho rapidamente. No entanto, os atletas de elite podem necessitar de uma abordagem mais específica para otimizar a relação entre as adaptações benéficas e negativas.

Conclusões

O treino da força é uma ferramenta poderosa para melhorar o desempenho desportivo. No entanto, a sua eficácia depende de uma concepção cuidadosa que tenha em conta as adaptações positivas e negativas. Ao compreender e gerir estas compensações, os treinadores e os atletas podem desenvolver programas de treino que maximizem a força e a velocidade, sem sacrificar a resistência. Esta abordagem equilibrada não só melhora o desempenho, como também minimiza o risco de lesões, garantindo que os atletas possam competir ao mais alto nível.

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Fonte: Optimising Resistance Training for Sprint and Endurance Athletes: balancing positive and negative adaptations