A Fundação Universitária Iberoamericana (FUNIBER), em colaboração com a Universidad Europea del Atlántico (Universidade Europeia do Atlântico) e a Universidade Internacional do Cuanza, publicou recentemente o relatório Estudo NutriPALOP: Pesquisa sobre hábitos alimentares e de saúde de participantes angolanos.
O estudo foi realizado no âmbito do projeto Clinical Simulation Practice-based Learning in Nursing (CLINICALSIM), financiado pela Comunidade Europeia, o qual procura, por meio de formação, investigação e inovação, promover a melhoria da enfermagem em Angola.
Entrevistamos a Dôngua Angelina José Buta, presidente do Conselho Provincial Ordem dos Enfermeiros de Angola no Bié, organização que participa no projeto CLINICALSIM, e chefe do Departamento de Formação e Investigação Científica do Hospital Provincial do Bié. Ela analisa alguns dos resultados do estudo e comenta sobre sua importância para a formação de profissionais da área de saúde no país.
Qual é a importância de conhecer os hábitos alimentares da população?
Conhecer os hábitos alimentares de uma população é fundamental do ponto de vista profissional, pois colabora para facilitar a comunicação entre profissionais e população facilitando assim o processo de orientação alimentar baseado nos alimentos já presentes na cultura alimentar dos mesmos.
Como a senhora interpreta os resultados do estudo NUTRIPALOP apresentados no relatório?
Preocupada com os resultados obtidos porque reflete o grito da população sobre a dificuldade de aquisição de alimentos: sabe-se que além da qualidade, a quantidade de alimentos que devem ser ingeridos por dia é importante para a saúde dos indivíduos. Os resultados mostram que mais de 55% da população estudada tem no máximo 2 refeições por dia. Olhando para o nível social e “intelectual” dos participantes, leva-nos a refletir sobre como tem passado aqueles de nível social mais baixo que representa a maior parte de população angolana.
Pode dizer-nos alguns dados que chamaram a sua atenção, reforçando algo que já sabia ou, pelo contrário, contrariando alguma ideia anterior?
Um dos dados que chamou a minha atenção é o resultado da nuvem de palavras (pag. 12) demonstrado que o feijão, o peixe e o arroz são os alimentos mais consumidos tudo porque olhando para a actual realidade estes são os alimentos mais caros, de momento. Porém compreende-se melhor olhando para a população que participou do inquérito e a quantidade de refeições por dia.
De acordo com o relatório, uma grande maioria reconhece a importância do nutricionista nos cuidados de saúde. Na sua opinião, qual seria o principal contributo de um nutricionista no contexto específico de Angola?
A presença do profissional nutricionista é de suma importância em qualquer sistema de saúde, para Angola não é diferente. Angola é um país com uma vasta gama de alimentos, facto que não justifica as altas taxas de má nutrição registradas no país. Daí a importância da necessidade da existência dos nutricionistas em quantidade suficiente para atender a demanda de reorientação nutricional, visto que muitos dos nossos compatriotas da zona rural, por exemplo, criadores de galinha, vendem ovos e, por vezes, a própria galinha para comprar frango congelado.
Na UNIC, a universidade tem um curso de graduação em Nutrição Humana e Dietética. Quais recomendações daria aos estudantes que se preparam agora para trabalhar neste sector?
A nossa recomendação de formação é positiva e está de parabéns a província do Bié e o país, de modo geral, olhando para a necessidade que se tem em relação ao profissionais da área e nutrição. Encorajamos os estudantes deste curso e estamos à disposição naquilo que podermos ser úteis. E podem ter certeza de que eu serei um dos seus primeiros utentes (risos).
Por fim, o relatório foi realizado no âmbito do projeto CLINICALSIM, que visa melhorar e inovar os cuidados de enfermagem em Angola através da formação e pesquisa. Como se relacionam os hábitos alimentares saudáveis com a enfermagem?
Os hábitos alimentares saudáveis estão profundamente relacionados à enfermagem, uma vez que a nutrição é um componente essencial para a manutenção da saúde, recuperação do corpo após doenças e a promoção do bem-estar. Os profissionais de Enfermagem, desempenham um papel fundamental na avaliação das necessidades nutricionais dos pacientes, na educação sobre alimentação saudável e na implementação de planos de cuidados que promovam um plano de cuidados adequados. Por exemplo, na planificação da dieta os enfermeiros trabalham em conjunto com nutricionistas para desenvolverem planos alimentares que se adequam às necessidades do paciente, na maioria da nossa realidade isso não acontece por falta do profissional nutricionista causando consequentemente a sobrecarga de trabalho para os profissionais de Enfermagem, entre vários outros exemplos que poderíamos realçar.
Assim, a relação entre hábitos alimentares saudáveis e a prática de enfermagem é multifacetada e essencial para o cuidado holístico ao paciente. Os enfermeiros, não apenas avaliam e monitoram o estado nutricional, mas também educam, planejam e apoiam os pacientes para uma vida mais saudável, contribuindo significativamente para a melhoria da saúde e qualidade de vida dos indivíduos atendidos.
Para consultar a pesquisa: Estudo NutriPALOP: Pesquisa sobre hábitos alimentares e de saúde de participantes angolanos.