A diminuição do consumo de carne e de produtos lácteos foi identificada como uma tática essencial para reduzir os efeitos ambientais significativos que os sistemas alimentares estão a exercer sobre as alterações climáticas, a perda de biodiversidade relacionada com as alterações do uso do solo e o consumo de água doce. Um estudo recente publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) apresenta uma avaliação exaustiva dos alimentos alternativos, como a soja, o feijão, a aveia, etc., do ponto de vista nutricional, da saúde, do ambiente e dos custos. Esta análise multicritério não só compara estes produtos com os alimentos de origem animal que pretendem substituir, mas também com os alimentos vegetais não transformados que são utilizados como base para a criação destas alternativas.
Impacto ambiental dos produtos de origem animal
O consumo excessivo de carne e de produtos de origem animal está a ser cada vez mais questionado pelo seu impacto negativo na saúde e no ambiente. A pecuária é uma das principais fontes de emissões de gases com efeito de estufa relacionadas com a alimentação, sendo responsável por cerca de 20% do total de emissões de gases com efeito de estufa. Além disso, os produtos de origem animal têm um impacto desproporcionado na utilização dos solos, na perda de biodiversidade, na utilização de água doce e na aplicação de fertilizantes. A redução da produção desproporcionada de produtos de origem animal contribuiria para os esforços destinados a manter o aquecimento global abaixo dos 2°C e poderia ultrapassar outros limites planetários críticos.
Riscos para a saúde associados ao consumo de carne
Embora os produtos animais forneçam nutrientes essenciais, o seu consumo em grandes quantidades tem sido associado a doenças crónicas. A carne vermelha e transformada está associada a um risco acrescido de doenças não transmissíveis, como as doenças cardíacas, os acidentes vasculares cerebrais, o cancro colorrectal e a diabetes de tipo 2. Com base nestas provas, o Centro Internacional de Investigação do Cancro classifica a carne transformada como cancerígena e a carne vermelha como provavelmente cancerígena. Embora as aves de capoeira e o leite sejam considerados opções mais saudáveis do que a carne vermelha, o seu consumo excessivo também está associado a um maior risco de doenças cardiovasculares em comparação com os alimentos de origem vegetal.
Por este motivo, as empresas responderam oferecendo alternativas à carne e ao leite, produtos que imitam a textura da carne, como hambúrgueres e salsichas vegetarianos (muitas vezes à base de soja ou ervilhas, mas que são alimentos processados e, por conseguinte, pouco saudáveis), e substitutos do leite, como bebidas de soja, aveia, amêndoa e arroz, entre outros. Estão também a desenvolver carnes cultivadas em laboratório com a promessa de reduzir o impacto ambiental e melhorar o bem-estar dos animais. A oferta de opções de substitutos específicos da carne e do leite pode facilitar a transição para dietas à base de plantas, mas a sua adoção é dificultada por preocupações quanto ao seu valor nutricional, impacto na saúde e custo.
Avaliação exaustiva dos produtos alternativos
Foram efectuados vários estudos sobre alternativas à carne e ao leite, quantificando os impactos ambientais de ambos os produtos, comparações nutricionais e comparações de custos. No entanto, estas análises não são combinadas num quadro analítico coerente. Por conseguinte, o estudo intitulado «A multicriteria analysis of meat and milk alternatives from nutritional, health, environmental, and cost perspectives» apresenta uma avaliação abrangente de alternativas à carne e ao leite. Foram avaliados 24 produtos, desde os substitutos tradicionais, como o tofu e o tempeh, até às alternativas processadas, como os hambúrgueres vegetarianos e os leites à base de plantas, incluindo a carne de cultura. Estas alternativas foram comparadas com os alimentos de origem animal que procuram substituir e com os alimentos vegetais não processados utilizados como base para a criação destas alternativas, utilizando várias unidades de medida, como por porção e por caloria, e as comparações foram efetuadas tanto por produto como por dietas globais.
Resultados relevantes
Domínio nutricional
Os resultados mostraram que os alimentos vegetais não transformados, como a soja, as ervilhas e os feijões, são as melhores escolhas para substituir a carne e os lacticínios. Na análise nutricional, os resultados mostraram que a carne e os produtos lácteos têm níveis elevados de gordura saturada (20%) e os produtos à base de carne têm níveis elevados de calorias (10%). Em comparação, os alimentos alternativos têm níveis elevados de fibra, potássio, zinco e riboflavina. Em comparação com o leite gordo, as alternativas ao leite têm quantidades mais elevadas de ferro, zinco e riboflavina. Além disso, a substituição das calorias provenientes da carne ou dos lacticínios pelos alimentos alternativos reduziu o desequilíbrio nutricional até 10%, destacando-se os benefícios da soja, das ervilhas e dos feijões.
Saúde
No que diz respeito à saúde, estes alimentos alternativos foram associados a reduções no risco de doenças crónicas e a substituição de toda a carne ou produtos lácteos pelas mesmas calorias alternativas de carne ou leite reduziu a mortalidade em 5-6%. A redução da mortalidade deve-se ao aumento da fibra, do potássio e dos ácidos gordos polinsaturados (AGPI), à redução do colesterol e do ferro heme nas dietas. Entre as alternativas à carne, as maiores reduções na mortalidade resultaram dos benefícios das ervilhas (6,1%), seguidas do tempeh, feijão e soja (5,1-5,7%). Entre as alternativas ao leite, as maiores reduções de mortalidade foram para os benefícios da soja (5,2%), seguida pelo leite de amêndoa (4,4%), aveia, (4,3%).
Ambiente
Do ponto de vista ambiental, todas as alternativas à carne e ao leite tiveram impactos ambientais mais baixos por porção do que a carne e os produtos lácteos comparáveis. A carne de bovino tem o maior impacto ambiental entre os produtos à base de carne (100% em todos os sectores) e os produtos transformados à base de aves de capoeira e de suíno têm entre 14 e 18% dos impactos (GEE: 13 a 18%, terra: 9 a 10% e água: 21 a 27%). Em comparação, os impactos das alternativas à carne variaram entre 2% para a soja e as ervilhas (GEE: 1%, terra: 3% e água: 5 a 8%). Em comparação com os impactos ambientais médios do leite gordo e magro (100% em todos os domínios), a soja teve 10% do impacto (GEE: 7%, terra: 25% e água 6%), seguida das amêndoas e da aveia com 12 a 15% (GEE: 5 a 12%, terra: 27 a 33% e água: 11 a 21%). A implementação destas alternativas reduziu os impactes ambientais em até 40%.
Domínio dos custos
Na área dos custos de produção, os resultados mostraram que os alimentos alternativos processados são mais caros por porção do que o produto que pretendem substituir, enquanto as alternativas não processadas foram menos dispendiosas. Entre as alternativas à carne, os hambúrgueres vegetarianos são 36% mais caros do que os hambúrgueres de carne de vaca; as salsichas vegetarianas são 41% mais caras do que as salsichas de porco e o bacon vegetariano é 99% mais caro do que o bacon de porco. Em contrapartida, as alternativas não transformadas (soja, feijão e ervilhas) são 88% mais baratas do que os hambúrgueres de carne de vaca e 72% mais baratas do que as aves de capoeira. Entre as alternativas ao leite, a bebida de soja era 69% mais cara do que o leite, a bebida de aveia e a bebida de amêndoa eram 91% mais caras. Os alimentos vegetais não processados utilizados como ingredientes eram 45-69% mais baratos do que o leite.
Considerações finais
O estudo fornece uma base sólida para considerar uma mudança para dietas mais sustentáveis e saudáveis. Estes resultados oferecem uma visão valiosa sobre a forma como as escolhas alimentares podem influenciar a saúde individual e o bem-estar do planeta. À medida que avançamos para um futuro mais consciente, as alternativas à carne e aos lacticínios podem desempenhar um papel crucial na formação de dietas mais equilibradas e sustentáveis.
Também fornece um forte apoio às políticas públicas e iniciativas empresariais que promovem o aumento do consumo de alternativas à carne e aos lacticínios para mitigar os efeitos do sistema alimentar nas alterações climáticas. Ao considerar estes produtos como parte de uma estratégia alimentar mais alargada, não só se abordam as preocupações ambientais, como também se melhoram os resultados de saúde pública e se reduzem os custos de produção.
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