Num mundo em que a diabetes se tornou um problema crescente de saúde pública, um estudo recente publicado na revista The Lancet lança luz sobre as tendências globais da prevalência e do tratamento desta doença entre 1990 e 2022. Esta análise exaustiva revela não só o aumento alarmante dos casos de diabetes, mas também as disparidades no acesso ao tratamento a nível mundial. Como é que o panorama da diabetes mudou nos últimos 30 anos e o que é que isso significa para o futuro da saúde global?
A prevalência da diabetes a nível mundial
A diabetes, uma doença que pode ser detectada e tratada eficazmente ao nível dos cuidados primários, registou um aumento significativo da sua prevalência em todo o mundo. De acordo com o estudo, em 2022, cerca de 828 milhões de adultos terão diabetes, um aumento notável de 630 milhões desde 1990. Este crescimento foi mais acentuado nos países de baixo e médio rendimento, especialmente no Sudeste Asiático, no Sul da Ásia, no Médio Oriente, no Norte de África, na América Latina e nas Caraíbas.
A doença pode levar a complicações graves, como amputações, perda de visão e problemas renais, além de estar associada a doenças cardíacas, demência, certos tipos de cancro e infecções graves, como a tuberculose e a COVID-19. O não tratamento ou o tratamento tardio aumenta o risco de complicações e de mortalidade. Medir a prevalência da diabetes e o acesso ao tratamento é, por conseguinte, crucial, uma vez que reflete a saúde da população e a eficácia dos sistemas de saúde.
A existência de dados comparáveis sobre a prevalência e o tratamento da diabetes a nível internacional pode ajudar a identificar práticas eficazes e a orientar as políticas de saúde. No entanto, os dados atuais sobre a prevalência global da diabetes são limitados e existe pouca informação sobre a cobertura e as tendências do tratamento.
Como foi realizado o estudo?
Foram recolhidos dados de estudos de base populacional que medem a glucose em jejum e a hemoglobina glicosilada (HbA1c) para analisar a prevalência e o tratamento da diabetes. No estudo, a diabetes foi definida como a utilização de medicação específica ou a existência de níveis elevados de glucose ou de HbA1c. As tendências de 1990 a 2022 foram avaliadas em 200 países, diferenciadas por sexo e idade. Foram considerados diferentes grupos etários.
Conclusões relevantes
Em 1990, a Europa apresentava a prevalência mais baixa de diabetes em comparação com outras regiões, com a Dinamarca a registar as taxas mais baixas. Em contrapartida, algumas ilhas do Pacífico, como Nauru e Samoa, registaram uma prevalência de diabetes significativamente mais elevada, variando entre 20% e 31%. De 1990 a 2022, a prevalência da diabetes diminuiu ligeiramente em países como o Japão e a Espanha, mas aumentou significativamente noutros, especialmente no Sudeste Asiático, no Médio Oriente, no Norte de África e na América Latina.
Em 2022, a Europa Ocidental e a África Oriental mantiveram as taxas mais baixas de diabetes, enquanto países como Trinidad e Tobago e o Egito ultrapassaram os 25% de prevalência. Por outro lado, a prevalência bruta foi mais elevada em regiões com populações mais idosas, como a Europa Central, a Ásia Oriental e o Pacífico e partes da América Latina, porque a diabetes é mais comum em idades mais avançadas. A idade média das pessoas com diabetes variava, sendo inferior a 40 anos em partes da África Subsariana e superior a 65 anos nos países de elevado rendimento.
Em 2022, a prevalência global padronizada por idade da diabetes era de 13,9% para as mulheres e 14,3% para os homens, com uma estimativa de 828 milhões de adultos afetados, um aumento considerável de 630 milhões desde 1990. A Índia e a China representavam uma grande parte deste valor, seguidas dos Estados Unidos, do Paquistão, da Indonésia e do Brasil.
Acesso ao tratamento da diabetes
Apesar do aumento do número de casos de diabetes, o acesso ao tratamento continua a ser um desafio. O fosso no acesso ao tratamento da diabetes entre países aumentou significativamente entre 1990 e 2022. Em 2022, alguns países de elevado rendimento e a América Latina alcançaram uma cobertura normalizada de 55% ou mais, enquanto na África Subsariana e noutras regiões a cobertura foi inferior a 10% em alguns casos. A Bélgica registrou a cobertura mais elevada, com 86% para as mulheres e 77% para os homens.
Em 2022, 445 milhões de adultos com mais de 30 anos com diabetes não estavam a ser tratados, o que representa 59% desta população, 3,5 vezes mais do que em 1990. A Índia e a China representavam o maior número de pessoas não tratadas, com a Índia a superar a China devido a uma menor cobertura. Do mesmo modo, nas regiões da África Subsariana e das Caraíbas, não se verificou um aumento significativo no acesso ao tratamento. Em contrapartida, países como o México, a Colômbia, o Chile e o Canadá registaram melhorias na cobertura do tratamento.
Na maioria das regiões, a maioria das pessoas com diabetes não tratadas não foi diagnosticada, com taxas de não diagnóstico superiores a 94% na África Subsariana e no Sul da Ásia.
Implicações finais
A obesidade é um fator-chave no aumento da diabetes, especialmente em regiões como o Pacífico e as Caraíbas. Para combater a diabetes, é necessário melhorar a alimentação e o tratamento através da regulamentação, da tributação e do acesso a alimentos saudáveis e à atividade física. Em conclusão, estes resultados sublinham a necessidade urgente de melhorar as estratégias de rastreio e tratamento da diabetes, especialmente em regiões onde a doença está a aumentar e o acesso ao tratamento é limitado.
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