Opiniões FUNIBER: Running, corridas populares e condutas de risco

Professor da FUNIBER da área de esporte opina sobre os fatores de risco na prática de running.

Recentemente, no mundo do esporte, destacaram-se notícias relacionadas com uma das provas populares mais valorizadas e apreciadas do calendário na Espanha, a La Behobia-San Sebastián.

Trata-se de uma corrida de 20 km, com contínuas subidas e descidas, um circuito exigente para qualquer corredor e muito mais para os principiantes. As condições ambientais que se deram nesta edição, com porcentagens altas de umidade e temperaturas de 21ºC a 26ºC, não muito habituais nesta época, a tornaram muito mais exigente.

Desafortunadamente, a corrida aconteceu com um falecimento, 21 entradas hospitalares, vários deles na unidade de cuidados intensivos e 450 intervenções por parte dos serviços médicos. É um balanço de incidências que deixou em segundo plano esta prova esportiva.

O que aconteceu nesta corrida?

Sem dúvida, a temperatura foi um dos fatores que mais influenciou, endurecendo e aumentando o nível de exigência da prova. Os 21ºC a 26ºC podem parecer, a priori, temperaturas não tão elevadas, mas a realidade é que não era uma época muito habitual – outono na Espanha – em que o corpo não está tão adaptado e aclimado, como no verão, a estas temperaturas.

Fatores de risco

O Doutor(c) Javier Costas, professor da  área de Esportes da FUNIBER, opina que, na verdade, a temperatura não é o único fator para que o risco eleve-se e acabe em acidente. Se aprofundarmos um pouco, encontramo-nos com mais fatores a considerar, muitos deles relacionados ao participante, com o próprio corredor e nem tanto a fatores externos, comenta o docente.

Se conhecermos os fatores que podem condicionar a exigência de uma prova, será mais fácil tomar medidas para seu controle e precaver riscos:

Fatores ambientais: O calor, frio, vento, umidade… todos eles são exemplos que podem fazer que uma prova “acessível” converta-se na mais dura. Conhecer a previsão meteorológica, utilizar equipamentos adequados de amparo (boina, óculos, objetos técnicos, etc.), fazer uma adequada aclimatação, ou planejar e cobrir as necessidades de hidratação podem ser medidas para controlar e minimizar estes fatores de risco.

Características pessoais: É necessário conhecer nossas capacidades e limitações antes de iniciar um programa de treinamento. Realizar certas avaliações, reconhecimentos médicos ou provas de esforço, que permitam avaliar a saúde cardiovascular e saber se a pessoa está apta para a prática esportiva a altas intensidades.

Características da prova e atividade: cada atividade tem certas exigências e fatores de risco próprios, de forma que não é o mesmo uma prova de running de 10 km em plano, que uma trilha por montanhas ou uma corrida com obstáculos. É necessário conhecer perfeitamente as características da prova (desníveis, lances técnicos, obstáculos, etc.) e adaptar-nos gradualmente às exigências de cada competição durante os treinamentos.

Segundo o Dr. (c) Costas, “não devemos desejar iniciar-nos no running em distâncias exigentes, como uma meia maratona ou maratona, e querer fazê-lo em 2 meses, embora, infelizmente, isto esteja acontecendo”.

Planejamento do treinamento: O planejamento do treino deve ser adequado para poder confrontar as exigências de cada prova. É um grave equívoco e pode implicar riscos apoiar nossa preparação em “receitas” de outros, o que nos diz um amigo, ou o que encontremos na primeira revista ou página web que se encontre na internet.

Se não houver nenhum tipo de conhecimento, o primeiro a fazer deve ser contatar um treinador qualificado, quem fará uma entrevista inicial para conhecer as características pessoais e guiará para marcar os objetivos adequados. Realizará uma avaliação para conhecer o nível de condição física inicial e de saúde, e passará a elaborar um planejamento de treinamento personalizado, fazendo seu seguimento através de diferentes testes para avaliar a adaptação ao treinamento e os progressos.

Boom da corrida e competições populares

Há alguns anos, aumentou de maneira importante todo tipo de provas esportivas e competições populares. No caso da corrida, foi um autentico “boom” por ser uma atividade acessível. Também ocorreu o mesmo com outras disciplinas esportivas como o triátlon, as corridas de montanha, travessias a nado, corridas com obstáculos, etc.

Sem dúvida, este aumento de provas tem um componente muito positivo, que é o aumento da prática da atividade física. Cada vez há maior número de provas, com diferentes distâncias, disciplinas, etc., e na maioria dos casos são provas abertas, nas quais qualquer um pode inscrever-se e participar. Isto facilitou a possibilidade de propor um desafio/objetivo pessoal ou em grupo, e que muitas pessoas iniciem a prática da atividade física com este importante componente motivacional.

Mas são apenas aspectos positivos? Por que tanto abandono?

O professor da FUNIBER, Javier Costas, comenta que se vem comprovando como algumas das provas mais conhecidas e populares são cada vez mais massivas. Com um excesso de confiança, muita gente perdeu o medo às provas, às distâncias e não avaliam que, muitas delas, são realmente exigentes até para os esportistas treinados.

Encontramos participantes que se lançam a fazer estas corridas sem preparação. Corredores que vão sofrendo desde o começo da prova, mas seguem e seguem forçando sob slogans do tipo “não há limites”, em busca do épico, da foto para colocar nas redes sociais. A realidade é que muitos deles não atingem a meta, há uma percentagem muito alta de abandono, e o que é pior, colocam sua saúde seriamente em risco, então… é quando “chegam os limites”.

Este boom pelas provas populares, fez com que aumentem as entidades organizadoras que propõe competições cada vez mais duras, mais longas e que supõem desafios mais notáveis, vendendo-as como esporte-saúde, aponta Costas.

A organização de uma prova popular requer uma grande responsabilidade para dar resposta a todas as pessoas que participarão dela. O planejamento da corrida, seus objetivos, bem como a gestão de todos os recursos necessários devem ser adequados à atividade e ao número de participantes, zelando sempre pela segurança dos participantes.

Os estudantes da área de Esporte da FUNIBER recebem capacitação sobre a estrutura e função do organismo humano e sobre a nutrição aplicada ao esporte, assim como sobre os princípios do treinamento e planejamento esportivo.