Estudo de bolsista da FUNIBER se destaca por apresentar um estudo inédito no Brasil que poderá se transformar em uma normativa implantada em todo o país
Os produtos perigosos são transportados no Brasil através de transportadoras que circulam por ambientes abertos, como são as rodovias, e em ambientes fechados, como são os túneis rodoviários.
Para o estudo de conclusão do Mestrado em Gestão e Auditorias Ambientais, titulado pela Universidad Europea del Atlántico, o aluno brasileiro Nilson Restanho realizou uma pesquisa para conhecer os perigos e riscos de possíveis acidentes com estes tipos de produtos dentro de túneis, e como desenvolver um protocolo de ações que possa atender o acidente de forma segura.
O aluno estudou também possíveis propostas preventivas para evitar que ocorram acidentes, e assim, diminuir as vítimas mortais e os enormes prejuízos materiais e ambientais.
Segundo o orientador da dissertação, o professor Erik Simões, o estudo é de muita relevância para o Brasil, considerando que não existe no país nenhum protocolo nem orientação sobre acidentes em túneis com produtos perigosos.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) teve conhecimento do estudo durante um encontro no Brasil com especialistas. Um representante da ABNT convidou o aluno a participar da formalização destas normas que futuramente poderiam ser aplicadas como diretriz no país.
Entrevistamos Nilson Restanho para conhecer mais sobre o estudo e a importância dos resultados para a aplicação prática no Brasil.
Quais são os principais agravantes de um acidente ocorrido em um túnel quando comparado com um acidente ocorrido em um ambiente aberto?
O ambiente mais fechado potencializa os efeitos quando ocorre um acidente. Enquanto que em ambientes abertos, as emissões resultantes (fogo, gases, ondas de choque, projeções de objetos) podem expandir-se; nos ambientes fechados, como são os túneis, os efeitos são maiores por haver, basicamente dois locais para essa expansão (entrada e saída). Quem estiver nesses caminhos da entrada e saída poderá sofrer consequências danosas.
Existem países que contam com esse tipo de protocolo de ações específico para acidentes em túneis?
Durante as pesquisas para elaboração da dissertação, foram verificadas a existência de protocolos para combate a incêndios em túneis rodoviários, tanto na literatura brasileira quanto na estrangeira.
No entanto, com relação aos protocolos para atendimento aos acidentes de transporte de produtos perigosos, não foi localizado nenhum tipo de protocolo específico.
Alguns países europeus e os Estados Unidos, após vários acidentes registrados na história do transporte ocorridos dentro dos túneis, estabeleceram proibições ou restrições em determinados horários e quantitativos, como forma de minimizar as chances de ocorrer um acidente.
Essas proibições ou restrições foram resultados do estudo de um Comitê de Estudos para Túneis Rodoviários, com sede na França, que desenvolvem permanentemente estudos na busca de maior segurança para o uso dos túneis rodoviários e ferroviários.
Caso este protocolo fosse implementado hoje, os socorristas estariam capacitados para realizar o atendimento correto? Os túneis possuiriam a infraestrutura necessária ou seria necessário algum tipo de investimento?
Seguramente, os socorristas não estariam preparados. Nos contatos realizados com diversas instituições de atendimento emergencial para produtos perigosos, não foram verificados treinamentos para essa atividade específica. Caso ocorresse ou ocorra um acidente dentro de um túnel, seria necessário adaptar os trabalhos de acordo com o conhecimento que possuem e das experiências aos atendimentos em ambiente externo.
Quanto aos túneis rodoviários, aqueles construídos após 2004, em teoria, possuem estrutura e tecnologia adequadas; pois nesse ano foi publicada a Diretiva 2004/54/CE, relativa aos requisitos mínimos de segurança para os túneis inseridos na rede rodoviária transeuropeia. Os países seguem essa diretiva para a construção dos novos túneis.
Sabemos que acidentes com produtos perigosos são extremamente impactantes ao meio ambiente. Com uma possível implementação desse protocolo de ações, quais os ganhos ambientais que poderiam estar associados?
Os ganhos principais seriam a redução do número de vítimas mortais e sequelas nas pessoas deixadas pelos efeitos sofridos pelas exposições aos produtos perigosos após os acidentes.
Também a redução aos danos ambientais, como podem ser incêndios, derrames com possíveis contaminações do solo, água e ar, explosões, entre outras reações que podem ocorrer de acordo com as circunstâncias de cada acidente.
Ao estudar e apresentar um protocolo de ações para o atendimento corretivo foram apresentados estudos e sugestões de caráter preventivo, de forma que, a maioria das causas que resultam em acidentes nos túneis possam ser evitadas.
Existe alguma possibilidade desse importante protocolo ser oficialmente implementado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)?
No início do mês de novembro, palestrei num seminário do transporte rodoviário de produtos perigosos na capital de São Paulo. Apresentei a dissertação de mestrado. Dentre os participantes, estavam diversos segmentos representados por indústrias, associações, instituições públicas, e representantes do Comitê Brasileiro de Transportes e Tráfego (CB 16), da ABNT.
O CB 16 é um comitê da ABNT dedicado aos estudos e construções das normas brasileiras NBRs aplicadas aos produtos perigosos. Após a apresentação, demostraram interesse em evoluir o estudo numa NBR que trate do assunto.
Para que se torne real, a ideia deverá ser proposta na próxima reunião do comitê CB16, realizada no inicio de cada mês, para seguir ganhando corpo até sua publicação.
Para ler a tese completa: Protocolo de ações para o atendimento aos acidentes com produtos perigosos em túneis rodoviários em rodovias brasileiras