Paixão no futebol: design, marketing e torcida

Durante a Copa do Mundo, vemos torcedores apaixonados nas arquibancadas que levantam as bandeiras dos países, pintam-se das cores nacionais e vestem as camisas das seleções. Este envolvimento do torcedor com os símbolos do time é a essência do marketing esportivo.

Para entender melhor a importância do design para o engajamento no futebol, entrevistamos Adriano Ávila, fundador e CEO do portal Futbox.com – Centro de Pesquisa Gráfica sobre Futebol . A partir de uma pesquisa histórica com foco no design gráfico, Adriano criou o portal com ilustrações e conteúdo audiovisual original relacionado ao futebol. No portal, pode-se conhecer e comparar a identidade visual de clubes e seleções de futebol.

Recentemente, a Futbox desenvolveu o projeto gráfico do Cinefoot 2022, o maior festival de cinema de futebol da América Latina.

 

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Projeto gráfico Cinefoot 2022

 

– Que importância tem a bandeira de um clube de futebol?

 

A bandeira identifica o clube da mesma forma que o seu próprio escudo. É como se fosse uma extensão do mesmo. Sinaliza a instituição da qual o torcedor se identifica, escolhe e faz parte. É uma representação concreta da “noção de pertencimento” que une o torcedor e preserva, ao mesmo tempo que celebra, o lastro e a história do clube. Funciona também como uma forma de intimidação da torcida adversária nas arquibancadas. Mostra que ali existe uma tribo disposta a tudo pelo clube.

 

– Na sua opinião, e pela experiência como designer, qual é a importância do design no marketing esportivo?

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Adriano Ávila, fundador e CEO do portal Futbox.com

 

Sempre foi determinante na comunicação eficiente entre instituição/empresa/produto ou serviço com o seu público-alvo. Após as redes sociais essa importância subiu de patamar, pois temos o cenário da multitela, por exemplo, onde a solução que está sendo apresentada é visualizada ao mesmo tempo que uma infinidade de informações por outros meios: celular, desktop e TV (streaming) e plataformas: sites e podcasts. O design precisa sintetizar graficamente, a solução do produto, serviço ou benefício de forma rápida, agradável, acessível e intuitiva, além de promover o desejo de participar do que está sendo apresentado. A “noção de pertencimento”, novamente, é o foco principal no marketing do início do século XXI.

 

– Que relação tem o design com a torcida do time?

 

O design precisa representar ou resgatar símbolos que façam sentido para o torcedor, onde esse conseguirá identificar, sem ruído, a mensagem do clube. Uma vez identificados os elementos gráficos que serão trabalhados, eles podem ainda, ser ressignificados para atingir um novo público com o objetivo de expandir a torcida, com novos fãs, por exemplo, que possuem valores e comportamentos diferentes dos mais velhos. O design inteligente faz parte do canal de relacionamento entre clube e torcedor, e deve equilibrar tradição e inovação na solução gráfica e/ou digital que será utilizada.

 

Agora, com a Copa do Mundo, o que podemos ver de tendências de uso do design esportivo?

 

Os NFTs ainda são um produto e um bem digital distante em grande parte dos países da América Latina, mas na Europa e Ásia, eles já estão em um processo de entendimento bem mais avançado. A evolução do design se dará muito nesse cenário e também, ou principalmente, nos games, onde já podemos observar uma transposição desses ambientes para o design dos uniformes das seleções. O Japão é um bom exemplo disso. Paradoxalmente, o Brasil também, mas é por conta da enorme penetração da história do futebol brasileiro em Copas, impactando e despertando o interesse no resto do mundo. O torcedor atual se identifica mais com craques/ídolos do que com clubes, e nisso, o Brasil possui um destaque enorme.

 

– Acredita que o design tem uma merecida atenção por parte dos clubes?

 

Essa atenção e entendimento de que o design pode ser um diferencial significativo na comunicação clube > torcedor > mercado, e atuar como ferramenta de geração de valor e receitas para suas marcas, é recente para muitos países. Muitos clubes, até há pouco tempo, cortavam os recursos em marketing quando precisavam diminuir custos ou precisavam de investimentos para melhorias em suas estruturas físicas.

 

Observando isso, o Futbox desenvolveu uma metodologia de trabalho em 2016: a Metodologia dos 3Ts: Tradição, Torcida e Troféus, onde desenvolvemos projetos e soluções por meio das identidades visuais dos clubes. Dessa forma, o que é apresentado ao torcedor e ao mercado faz sentido e tem uma grande margem de lucro e retorno, pois preserva o equilíbrio entre tradição e inovação, atingindo o público mais velho e os novos consumidores.

 

Na Europa e nos Estados Unidos o design é um assunto mais bem resolvido, e amplamente executado por clubes e Ligas – campeonatos como a NBA, por exemplo – que utiliza muito bem os seus símbolos e de suas franquias (os times de basquetes são franquias e podem, inclusive, mudar de cidade) para comercializar os jogos e ingressos. A Champions League na Europa e a Premier League da Inglaterra também são referências na identidade visual de seus produtos, desde os símbolos dos clubes até a infografia aplicada nas informações apresentadas na tela, referentes ao jogo que está sendo transmitido, como os dados estatísticos e de desempenho. A La Liga na Espanha é outro bom exemplo que vem nessa tendência e como na Inglaterra, ambas utilizam muito bem o design 2D, que possui uma característica fundamental: ele não envelhece com o tempo. Já o design 3D é datado, pois depende muito da tecnologia do seu recorte histórico e a evolução tecnológica é constante e ininterrupta.

 

 

A FUNIBER promove estudos na área de esportes e projetos, com programas como a Especialização em Comunicação e Marketing Digital no Esporte e o Mestrado em Desenvolvimento de Projetos de Inovação e Produto