Enfrentar o aquecimento global requer uma enorme e complexa rede de contatos que podem promover informação, recursos e propostas para solucionar um problema que cresce em ritmo exponencial. Os cientistas do Postdam Institute for Climate Impact Research (PIK, em alemão) realizaram uma pesquisa para aperfeiçoar a formação de redes de colaboração que permitam combater as mudanças climáticas e identificou que formar grupos de colaboração de modo acelerado pode afetar, a longo prazo, os projetos que necessitam de colaboração intensiva.
A pesquisa, publicada na revista Scientific Reports, indica que um nível ótimo de colaboração entre as pessoas é mais factível “somente quando as redes de pessoas se adaptam lentamente à estrutura de uma nova coalizão. Se a rede de pessoas se consolida mais rápido que a coalização, então a fragmentação pode evitar que se formem coalizões em grande escala”.
O autor do estudo, Sabine Auer, do PIK, indica que “a cooperação é crítica quando se trata de gerir recursos comuns”. Auer considera que é necessária uma transição para uma economia com baixo consumo de carbono, mas uma mudança requer que muitos países e organizações entrem em acordo sobre o uso de recursos comuns, como a atmosfera.
A coordenação entre grandes grupos de pessoas é vital para desenvolver estratégias que nos permitam solucionar o aquecimento global gradualmente, no entanto, para estabelecer organizações de sucesso, é necessário conhecer a dinâmica da colaboração entre pessoas.
Auer indica que é necessário que se estabeleça, lentamente, um laço de confiança entre os membros de uma coalizão, e explica com um exemplo: “imagine um campo utilizado por muitos fazendeiros, estabelecendo um acordo comum sobre o uso deste recurso renovável de forma sustentável, seria possível utilizá-lo para o benefício de todos a longo prazo, para atingir uma coalização que gere confiança. Esta seria a melhor opção, no entanto, nosso estudo mostra que se alguns fazendeiros formam uma coalizão rapidamente, antes de estabelecer toda a rede, isso poderia alienar os fazendeiros que ainda não fazem parte da coalizão, podendo causar rupturas nos laços que permitiriam a participação destes”.
Manter boas relações com os concorrentes
Jobst Heitzig, coautor do estudo, indicou que uma colaboração total é mais provável quando uma rede de conhecidos se adapta lentamente à estrutura da coalizão, e ressalta: “a velocidade relativa das mudanças na retroalimentação de ciclos sociais, aparentemente, é crucial para os processos de transformação”.
Heitzig indica que sua equipe de trabalho proporciona uma aproximação metodológica para a análise de ambientes socioeconômicos em que a colaboração promete vantagens econômicas ou sociais, e indicou que “este é um importante passo para um melhor entendimento dos mecanismos de colaboração”. O pesquisador ressaltou que há uma mensagem que se pode extrair do estudo: “manter boas relações com nossos concorrentes, de forma que eles possam se tornar nossos sócios mais adiante”.
O estudo foi realizado utilizando métodos de física estatística, apresentou Jürgen Kurths, diretor do departamento de Pesquisa Interdisciplinar de Conceitos e Métodos do PIK. O estudo foi realizado como parte do projeto COPAN (Coevolutionary Pathways), que busca desenvolver modelos conceituais nos quais se pode consolidar os subsistemas naturais e socioeconômicos que influenciam os sistemas terrestres e as relações entre eles. “A formação e desintegração de coalizões e a aparição de transições é um desafio maior para a modelagem de dados, mas nosso estudo deu mais um passo para um novo nível de complexidade”, afirmou Kurths.
Os alunos dos mestrados da área de Meio Ambiente da FUNIBER podem gerenciar projetos que permitem contatar diferentes grupos sociais para desenvolver, em conjunto, atividades para mitigar o aquecimento global.
Fonte: Nota de imprensa PIK
Foto CC Flickr: CECAR