Os hospitais que atendem pessoas com demência enfrentam diariamente comportamentos de stress que comprometem a segurança e o bem-estar. Um estudo recente publicado na revista Frontiers in Psychiatry avaliou a viabilidade de implementar um protocolo padronizado de musicoterapia, MELODIC (Music therapy Embedded in the Life Of Dementia Inpatient Care), em unidades de saúde mental do NHS no Reino Unido. Os resultados indicam que a intervenção é viável e aceitável, e estabelecem as bases para um ensaio clínico que determine a sua eficácia.
O impacto da musicoterapia nos cuidados hospitalares da demência
A musicoterapia é uma intervenção psicossocial com evidências de benefícios para o bem-estar na demência, especialmente quando se prioriza os cuidados centrados na pessoa. Em contextos de hospitalização, onde os fármacos psicotrópicos continuam a ser frequentemente utilizados apesar dos efeitos adversos, oferecer uma alternativa estruturada e personalizada ganha relevância clínica. O MELODIC propõe quatro pilares: integrar o musicoterapeuta na equipa, oferecer sessões clínicas em grupo e individuais, elaborar planos de cuidados musicais para cada paciente e formar o pessoal e os familiares para aplicar estas estratégias no dia a dia. Esta abordagem co-concebida facilita a identificação de necessidades não satisfeitas e favorece respostas não verbais que reduzem o stress, em ambientes com elevada complexidade de cuidados.
Como foi realizado o estudo?
A equipa avaliou a viabilidade do MELODIC em duas unidades de demência do NHS com diferentes experiências prévias em musicoterapia. Durante quatro semanas, foram oferecidas sessões clínicas, desenvolvidos planos musicais personalizados e fornecido apoio e formação ao pessoal e familiares. Participaram 28 pacientes, 13 familiares e 48 profissionais, com consentimento informado. Foram recolhidos diários de intervenção, dados de cuidados de saúde de rotina e questionários padronizados antes e depois da intervenção, além de entrevistas qualitativas para refinar o protocolo. A implementação foi acompanhada por supervisão clínica semanal e formação prévia para o musicoterapeuta, bem como ajustes práticos na formação do pessoal para favorecer a assistência e a adoção da ferramenta.
Resultados relevantes
A intervenção foi bem aceite e alcançou uma elevada adesão aos componentes previstos, com metas de recrutamento atingidas e uma elevada completude de dados. Durante o período de implementação, não aumentaram os incidentes de segurança nem os sintomas de distresse, e não foram registados eventos adversos associados às sessões. Nas análises exploratórias, surgiram pequenas melhorias não significativas na qualidade de vida e na perturbação dos sintomas, coerentes com estudos anteriores, embora também tenha sido observado um ligeiro aumento médio na agitação com intervalos de confiança amplos, o que convida a interpretar estes resultados com cautela. A abordagem foi considerada relativamente barata e viável, com investimentos principalmente em tempo do profissional e recursos musicais básicos. Além disso, o processo de co-design permitiu aperfeiçoar o protocolo entre os locais, por exemplo, transformando a formação obrigatória em workshops voluntários e materiais de apoio mais simples, bem como reforçando o vínculo com as equipas de gestão e as famílias.

Implicações finais
Essas descobertas sugerem que o MELODIC é um protocolo viável para incorporar a musicoterapia como parte dos cuidados padrão em unidades de demência, com potencial para melhorar a experiência de cuidados e reduzir a dependência de intervenções farmacológicas. Por outro lado, a variabilidade do ambiente hospitalar e as diferenças na ocupação, esgotamento do pessoal ou políticas de visitas ressaltam a importância de adaptar a implementação a cada contexto. Agora se justifica um ensaio controlado que determine a eficácia clínica e a relação custo-benefício do modelo e que explore com mais detalhes os fatores que favorecem sua adoção sustentada na prática.
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