O atual governo brasileiro quer mudar sistema de alfabetização incorporando técnicas exclusivas do sistema fônico. Especialistas são contra
O novo governo no Brasil quer retirar das escolas o construtivismo, e colocar, no lugar, a alfabetização através do sistema fônico. Especialistas de diversas organizações educativas no país enviaram uma carta ao Ministério de Educação solicitando mais espaço de debate público sobre as propostas da política de alfabetização da nova administração.
A presidente da Associação Brasileira de Alfabetização (ABAlf), Isabel Frade, afirmou que “o letramento é o caminho cultural e social que se faz entre a aquisição do sistema alfabético e o seu uso, não sendo, portanto, um contraponto ao ato de alfabetizar”, afirmou.
A professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, Mônica Baptista, explicou para a revista Educação, que não basta aprender o sistema alfabético, é necessário também ser capaz de usá-lo das diversas formas presentes no nosso cotidiano.
Já a professora emérita Magda Soares, maior referência no país sobre a alfabetização, afirma que “é preciso que entendam que o método fônico é componente fundamental, indispensável e essencial no processo de aprendizagem da língua escrita – mas, como disse, é apenas um componente deste processo. Está precedido e é seguido de outros pilares tão fundamentais, indispensáveis e essenciais, e inserido num contexto que envolve outros pontos importantes”.
O novo governo traz posicionamento político ao debate escolar e combate o construtivismo. A professora Magda Soares, acredita que é um erro. “Construtivismo, ou teoria da psicogênese da escrita, é um conhecimento pesquisado e mapeado pela psicóloga e pedagoga argentina Emília Ferreiro sob a orientação de Jean Piaget. A criança nasce e aprende a falar sozinha o idioma. Ninguém precisa dar aula disso para ela, mas a língua escrita é um objeto cultural. O aluno precisa construir os conceitos da língua escrita. Por equívoco, alguns chamam isso de construtivismo. E pior: sugerem a existência de método construtivista, algo que a própria Emília sempre recusou.”, explica.
A especialista explica que o método fônico é importante, tem respaldo científico e deve ser usado também na alfabetização. Mas que ele não é um método completo, e apenas integra parte do processo de desenvolvimento cognitivo e linguístico.
Autora do livro “Alfabetização – A questão dos Métodos” (Editora Contexto), a professora Magda Soares pesquisou um amplo conjunto de referências internacionais para a pesquisa, e ampliou no Brasil o conceito de literacy, ou seja, letramento.
Quando lançou o livro, em 2016, ela deu uma entrevista sobre a questão. Ela explicou então que grande parte dos problemas do fracasso no Brasil se referem a debates como este provocado pelo novo governo. “Porque continuamos discutindo método, sem entender o processo, como se se pudesse achar de repente um método que fosse uma varinha de condão, uma receita”, afirmou naquela época.
Nesta entrevista, ela parecia visualizar o presente: “Isso é o que justifica a guerra, essa posição de que é “isso ou aquilo”, quando, na verdade, é isso e aquilo”, explicou.
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Fonte:
Posições ideológicas do MEC reacendem debate sobre alfabetização
“É preciso ter vários métodos para alfabetizar”, afirma especialista
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