Desafios e avanços no tratamento das lesões desportivas

O desporto é uma fonte de saúde e de bem-estar, mas também comporta riscos inerentes, sobretudo para os desportistas de alto rendimento. As lesões de utilização excessiva, como as tendinopatias e as rupturas musculares, são problemas recorrentes que podem limitar o desempenho e comprometer as carreiras desportivas. Como combater eficazmente estas lesões e que tratamentos são realmente eficazes? Um estudo publicado no Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports explora a investigação mais recente sobre as lesões desportivas mais comuns, centrando-se na gestão de tendinopatias, distensões musculares e rupturas de tendões, fornecendo informações valiosas.

Tendinopatia: uma lesão recorrente nos desportistas

As lesões por uso excessivo dos tendões, conhecidas como tendinopatias, são uma grande preocupação no desporto. Estas lesões afetam normalmente o tendão de Aquiles e o tendão patelar, mas podem também manifestar-se noutras áreas, como o ombro, o pé ou o cotovelo. Estudos recentes salientam que até 50% dos corredores de resistência sofrem de tendinopatia de Aquiles em algum momento da sua vida, enquanto em desportos de salto, como o basquetebol e o voleibol, a prevalência de tendinopatia patelar pode atingir 20% a 35%.

Apesar da sua frequência, a origem exacta desta patologia continua a ser objeto de debate. Não se trata de uma rutura mecânica significativa, mas de um desequilíbrio na homeostase quotidiana do tendão, acompanhado de inchaço, de alterações morfológicas e de dor persistente. Este quadro clínico sublinha a importância de um diagnóstico precoce e de um tratamento adequado.

Tratamentos mais eficazes

Os tratamentos mais eficazes incluem exercícios de força excêntricos e concêntricos durante 12 semanas, combinados com a redução da carga desportiva. No entanto, terapias como o plasma rico em plaquetas (PRP), os anti-inflamatórios não esteróides (AINE) e os lasers têm demonstrado pouca eficácia. Embora os corticosteróides possam ser úteis a curto prazo, a sua eficácia varia consoante a localização da lesão. Subsistem dúvidas sobre a forma de otimizar o tratamento, a combinação com outras terapêuticas e o momento de retomar a atividade desportiva.

Lesões por distensão muscular: um obstáculo recorrente

As lesões agudas por distensão muscular, comuns nos isquiotibiais e na barriga da perna, ocorrem frequentemente devido a movimentos explosivos ou alongamentos extremos, afetando principalmente a junção miotendinosa. Estas lesões interrompem abruptamente a atividade desportiva e exigem semanas ou meses de recuperação, com um risco significativo de recidiva (14%-67%) após o regresso ao treino. Uma reabilitação eficaz é crucial não só para prevenir novas lesões, mas também para manter o desempenho desportivo, especialmente em disciplinas de equipa como o futebol.

Reabilitação e prevenção

A reabilitação baseada em exercícios de força excêntrica progressiva e corrida graduada demonstrou ser a mais eficaz na redução do tempo de regresso ao desporto (RTS) e na minimização do risco de recaída. Embora se sugira que se inicie a reabilitação precocemente, não existe consenso quanto à altura ideal para começar e aos exercícios específicos a implementar. Apesar da reabilitação, persistem alterações estruturais duradouras no músculo lesionado, como a atrofia, a acumulação de tecido conjuntivo e a desorganização muscular, que podem ser irreversíveis. Exercícios como o “hamstring Nordic” demonstraram eficácia na prevenção de lesões primárias e recorrentes, embora a sua aplicação em desportos de elite continue a ser limitada devido à baixa adesão.

Subsistem dúvidas sobre os processos de cicatrização na zona lesionada, sobre a melhor forma de estimular a regeneração dos tecidos e sobre quando é seguro retomar a prática desportiva com o menor risco de recidiva. Também não se sabe como avaliar a “prontidão” dos tecidos para a atividade física e se os tratamentos adjuvantes, como a inibição da inflamação, podem acelerar a recuperação.

Um atleta com uma distensão muscular.
As lesões desportivas não só afetam o desempenho, como também põem em risco carreiras inteiras, pelo que é importante um diagnóstico precoce e um tratamento adequado.

Lesão de rutura do tendão: o desafio do tendão de Aquiles

A rutura do tendão de Aquiles é a lesão mais comum entre os atletas, com uma maior incidência nos homens (3:1). Mesmo anos após a lesão, os doentes apresentam frequentemente uma recuperação funcional incompleta, com alongamento permanente do tendão, atrofia muscular e fraqueza. Estas sequelas podem limitar o desempenho atlético ou mesmo impedir o regresso ao desporto de competição, o que tem um impacto significativo nos atletas profissionais.

Opções de tratamento

O tratamento da rutura do tendão de Aquiles coloca um dilema entre as opções cirúrgicas e não cirúrgicas. Embora ambas as abordagens gerem resultados funcionais semelhantes, a cirurgia pode ser mais benéfica para os atletas de elite, uma vez que o tratamento conservador tende a resultar num maior alongamento do tendão, o que afeta negativamente a função física. No entanto, o alongamento do tendão é um problema comum em ambas as abordagens e está associado a uma redução da força muscular e da amplitude de movimentos.

Estudos recentes indicaram que a reabilitação tardia pode reduzir a inflamação e melhorar os resultados clínicos a longo prazo em comparação com a reabilitação precoce. Apesar dos esforços de recuperação, a fraqueza muscular pode persistir durante anos devido a alterações estruturais irreversíveis, como a perda de massa muscular e alterações no comprimento do músculo.

Considerações finais

As lesões desportivas, embora comuns, representam um desafio constante tanto para os atletas como para os profissionais de saúde. A investigação recente tem permitido encontrar estratégias de tratamento e reabilitação mais eficazes, mas ainda há muitas questões por responder. A otimização do tratamento, a prevenção de recaídas e a recuperação funcional completa continuam a ser objectivos prioritários na gestão destas lesões, com o objetivo de assegurar não só o regresso ao desporto, mas também a qualidade de vida dos atletas a longo prazo.

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