Os probióticos consolidaram-se como uma das intervenções mais estudadas para apoiar a saúde intestinal. Uma nova análise de alto nível publicada na revista Frontiers in Nutrition oferece uma visão integrada sobre o seu papel na prevenção e tratamento da diarreia e da obstipação na população pediátrica. Este estudo, que sintetiza revisões sistemáticas e meta-análises, ajuda a esclarecer discrepâncias anteriores e a orientar decisões clínicas com base nas melhores evidências disponíveis.
O papel dos probióticos na saúde gastrointestinal infantil
A disbiose intestinal, um desequilíbrio na microbiota intestinal, é uma característica comum na diarreia e pode ser influenciada por antibióticos, infecções e fatores nutricionais. Os probióticos, definidos pela OMS como microrganismos vivos que conferem benefícios à saúde quando administrados em quantidades adequadas, atuam de várias maneiras: competem com patógenos, fortalecem a barreira intestinal, modulam a resposta imunológica e favorecem a produção de metabolitos, como os ácidos gordos de cadeia curta. De acordo com o estudo, intitulado «The effect of probiotics on the diarrhea and constipation outcomes in children: an umbrella review of systematic reviews and meta-analyses», algumas estirpes, como Lactobacillus rhamnosus GG e Saccharomyces boulardii, são das mais estudadas em casos de diarreia.
Como foi realizada a revisão?
A revisão incluiu 35 estudos publicados anteriormente, que compilaram dados provenientes de numerosos ensaios com populações infantis de grande dimensão. Estes estudos compararam grupos de crianças com diarreia ou em risco de a desenvolver devido ao uso de antibióticos. Algumas dessas crianças receberam probióticos tanto para tratar como para prevenir a diarreia, enquanto outras, que também apresentavam diarreia, não os consumiram. Além disso, foi analisado o impacto dos probióticos em crianças com sintomas de obstipação. A avaliação centrou-se em aspetos práticos, como o aparecimento de diarreia, a duração dos episódios, a resposta ao tratamento e as alterações relacionadas com a obstipação.
Resultados relevantes
Os probióticos diminuíram significativamente o risco de apresentar diarreia em crianças. O risco de incidência de diarreia foi reduzido em 46% e a prevenção da mesma em 36%. Além disso, encurtaram significativamente a duração dos episódios diarreicos e melhoraram a resposta ao tratamento, o que se traduz em menos dias com sintomas e, potencialmente, em internamentos hospitalares mais curtos. Em relação à obstipação, os resultados mostraram um efeito global favorável, mas modesto, com pequenas melhorias na frequência das evacuações e sem alterações claras na consistência das fezes. Essas descobertas sugerem benefícios dependentes da estirpe e lembram que a obstipação é multifatorial, pelo que uma abordagem integral que inclua fibra, hidratação e atividade física continua a ser essencial.

Implicações finais
Na prática diária, os probióticos podem ser considerados como um apoio ao tratamento e prevenção da diarreia infantil, especialmente em quadros agudos ou diarreia associada a antibióticos. De acordo com o estudo, os probióticos são geralmente seguros em crianças saudáveis; no entanto, em crianças com defesas baixas ou doenças graves, é fundamental consultar o pediatra. Em relação à obstipação, é conveniente avaliar cada caso e priorizar hábitos saudáveis antes de recorrer a suplementos, uma vez que as evidências atuais são menos sólidas.
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