Sedentarismo mata duas vezes mais que a obesidade, na Europa

De maneira simplificada, as calorias que uma pessoa ingere menos as que ela gasta dão como resultado seu peso. Desta maneira, engordar é o resultado de consumir mais do que se elimina; e se for ao contrário, a pessoa emagrece. Todos os estudos estiveram de acordo com esta visão de tipo balança a respeito do que se come, mas novas pesquisas sugerem que o enfoque tradicional pode não ser de todo correto. O mais recente deles foi realizado na Universidade de Cambridge. A conclusão deste estudo, publicado no American Journal of Clinical Nutrition, é clara: anualmente, a obesidade está relacionada com 337 mil das 9,2 milhões de mortes que ocorrem na Europa; mas o sedentarismo está vinculado com o dobro de mortes: 676 mil.

A pesquisa, encabeçada por Ulf Ekelund, da unidade de Epidemiologia da universidade, tomou como base um macroestudo que observou, durante 12 anos, 334.161 europeus (homens e mulheres). Embora se buscasse encontrar estatísticas a respeito da relação entre a nutrição e o câncer, foi possível chegar a outras conclusões.

Ekelund resume a mensagem de maneira simples: fazer atividade física diariamente pode trazer benefícios claros às pessoas atualmente sedentárias. Embora 20 minutos sejam suficientes para marcar uma diferença, acrescenta Ekelun, ela sugere que se busque mais, assinalando que a atividade física tem benefícios demonstrados sobre a saúde, por isso deveria fazer parte de nossa agenda cotidiana. Vinte minutos investidos em um vigoroso passeio podem fazer com que sejam consumidas entre 90 e 100 calorias, além de conseguir reduzir o risco de morte prematura entre 16 e 30 por cento, em pessoas inativas. O benefício é estendido a todos, incluindo os obesos.

Esta pesquisa relaciona-se com outras recentes, como a do espanhol Anibes intitulada “Antropometria, Ingesta e Balanço Energético na Espanha”, a respeito da qual se têm apenas os primeiros resultados. Entretanto, pode-se ver neles que, apesar de a ingestão de calorias ter mostrado uma diminuição, passando das 3.008, em 1964, para 1.820, em 2013, contraditoriamente, o sobrepeso aumentou. Do mesmo modo, de acordo com a pesquisa nacional de saúde, afetou 53,68 por cento dos adultos.

Além do citado no parágrafo anterior, há outros estudos. Especificamente, há um sobre o consumo de açúcar que indica que não há uma relação entre o consumo desse produto (o mesmo que, na Europa, mantém-se muito estável) e o aumento da obesidade.
O aumento de peso (e as complicações de saúde associadas) teria, então, outras causas, que estariam no outro lado da equação: o exercício físico. Quarenta por cento dos espanhóis, de acordo com a pesquisa, declaram-se sedentários (46,6 por cento das mulheres e 35,9 por cento dos homens). Neste grupo de pessoas, 16 por cento afirma não realizar qualquer atividade física, enquanto 20 por cento qualifica como “moderada” sua prática de atividade física.

Com relação ao estudo, a catedrática de Nutrição Esportiva e Fisiologia do Exercício da Universidad Politécnica de Madrid, Marcela González-Gross, realizou interessantes comentários, afirmando que o rigoroso estudo de Cambridge confirma o que outras pesquisas prévias têm proposto e o que vem sendo comentado nesta área.

Ela indica que, até agora, deu-se mais ênfase ao tratamento da obesidade em lugar de centrar-se em seus elementos causadores. Do mesmo modo, qualificou a atividade física como “a grande esquecida” nas abordagens de saúde pública. Entretanto, assegura, pouco a pouco ela está voltando a ser protagonista.

Embora o estudo original fale em 20 minutos de atividade física para reduzir a mortalidade prematura, González-Gross recomenda aumentar o tempo para 30 minutos, pois, além de reduzir a probabilidade de mortalidade, também aumentaria a qualidade de vida. “É importante acrescentar anos à vida, mas também vida aos anos”, afirma a especialista.

Fonte: elpais.com
http://elpais.com/elpais/2015/01/14/ciencia/1421259028_671861.html
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