Opiniões FUNIBER: Aluno explica os perigos do Fracking

Juliano Bueno, aluno bolsista da FUNIBER, opina sobre o impacto da contaminação gerada pela extração de combustíveis fósseis.

Juliano, representante do “Não Fracking no Brasil”, detalha nesta entrevista as ações realizadas em seu país para frear o avanço da poluição gerada por atividades petroleiras.

Os combustíveis fósseis são recursos naturais não renováveis e a extração destes para o uso humano alterou o sistema ambiental da Terra, segundo Juliano Bueno de Araújo, fundador do COESUS (Coalizão Não Fracking Brasil) e coordenador de Campanhas Climáticas da 350.org. Juliano é aluno do Doutorado em Projetos patrocinado pela FUNIBER, e participou da III Oficina Internacional sobre realização de Tese de Doutorado promovida pela Fundação. A seguir, Juliano compartilha sua opinião sobre o impacto que tem uma nova modalidade de extração petroleira, denominada Fracking, e explica as medidas que estão sendo aplicadas para reduzir sua propagação no Brasil.

FUNIBER – Você pode explicar brevemente o que é o Fracking?
JULIANO – 
O Fracking é uma técnica de mineração utilizada para a exploração e explotação de petróleo e gás em jazidas de rocha de xisto betuminoso. Esta técnica, conhecida como fraturamento hidráulico (em inglês, Fracking) aumenta o número de fraturas na rocha e permite aumentar o volume de hidrocarbonetos que são extraídos do subsolo. O problema é que o método exige, por cada estação de mineração, a perfuração de poços profundos que necessitam a injeção de 30 a 40 milhões de litros de água doce misturadas com mais de 600 produtos tóxicos, cancerígenos e alguns radioativos, além de toneladas de areia a uma pressão alta o suficiente para fraturar a rocha e liberar o petróleo ou gás metano.

FUNIBER – Como você começou a se interessar pelo assunto do Fracking?  

JULIANO – Atuo na área ambiental há mais de duas décadas e como militante ambiental, pesquisador e empreendedor do terceiro setor tenho acompanhado de perto nos últimos anos a discussão mundial sobre os impactos ambientais, sociais e econômicos do Fracking para geração de energia. Como ambientalista conheço todas as demais tecnologias e posso assegurar o Fracking é uma das tecnologias mineradoras mais nocivas e perversas.

FUNIBER – O que acontece nos locais onde se utiliza o Fracking?
JULIANO
 – Nos Estados Unidos, que detém a patente e onde tudo começou nos anos 50, a tecnologia deixou um rastro de destruição e contaminação. Sem recursos naturais e dependentes do petróleo árabe, as empresas americanas investiram forte na técnica e conseguiram a sua tão sonhada autonomia energética. Os efeitos negativos dessa aventura econômica podem ser vistos agora: milhares de pequenas empresas estão falindo com a queda do preço internacional do barril de petróleo, isso principalmente em função do aumento da oferta do produto, e milhões de pessoas estão doentes e com suas terras e água contaminadas. Na Argentina, o Fracking afetou as águas da superfície e os lençóis freáticos, etc. Vale destacar que não há tecnologia capaz de mitigar os impactos do Fracking que são permanentes e irreversíveis.

FUNIBER: Quando começou a campanha contra o Fracking no Brasil?    

JULIANO – Em 2013, a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP) realizou leilões para exploração de gás de xisto no Brasil e vendeu lotes que atingem mais de 370 cidades em 16 estados. A campanha começa com a COESUS (que ajudei a fundar ainda em 2013), que inicia uma ação de levar informação às cidades que seriam impactadas. A parceria com a 350.org reforçou a nossa luta e a fez entrar em sintonia com o movimento internacional contra o Fracking. Nossa estratégia prevê mobilizar os gestores públicos locais, parlamentares e movimentos organizados da comunidade, levar informação sobre os perigos do Fracking, falar dos impactos e angariar apoio para aprovação de leis que proíbam a atividade no município. Além das cidades, também articulamos apoio de parlamentares nas Assembleias Legislativas dos Estados e no Congresso Nacional para a aprovação de uma legislação que proíba o Fracking no Brasil.

FUNIBER – O Brasil precisa de Fracking?
JULIANO
 – Claro que não! Nós temos um grande potencial para geração de energias renováveis como a solar, eólica, pequenas centrais hidrelétricas e de biomassa. Ao contrário dos Estados Unidos e outros países, temos condições de promover uma transição segura para energias 100% renováveis e conquistarmos nossa eficiência energética. Agora é o momento em que o mundo se curva diante das evidentes consequências das mudanças climáticas, temos que abandonar o uso de hidrocarbonetos para conseguir frear o aquecimento global. Nesse sentido, a COESUS, em parceira com a 350.org  e sua representação no Brasil, realiza atividades para reduzir os investimentos associados aos combustíveis fósseis. Durante este mês de maio, junto com outras organizações ecologistas e movimentos sociais brasileiros, vamos realizar ações coordenadas em quatro regiões com a campanha “Liberte-se dos combustíveis fósseis” (Break Free 2016). Para saber mais detalhes e como participar, basta acessar: www.liberte-se.org.

FUNIBER – Como as pessoas recebem as informações da campanha Não FRACKING Brasil?
JULIANO
 – A população se surpreende ao saber que a água, a terra em que vivem e a vida como eles a conhecem podem acabar com o Fracking. Isto acontece porque o governo brasileiro não fez nenhuma consulta, audiência pública, nada para discutir o tema com a sociedade. No Brasil, temos blocos de terrenos ofertados em áreas agrícolas no Mato Grosso, no Acre, Amazonas e Rondônia que atingem imensas áreas de florestas, comunidades tradicionais, terras indígenas; na Bahia, em Abrolhos, temos o berço de reprodução das baleias Jubarte; e no litoral, no Ceará, Sergipe e Rio Grande do Sul (offshore). Conseguimos sensibilizar o Ministério Público Federal, que obteve que a Justiça outorgue ordens judiciais para suspender as atividades de exploração pelo Fracking em 7 dos 15 estados leiloados. Foi uma grande vitória e tenho certeza que avançaremos mais e impediremos que isto ocorra no Brasil e em outros países da América Latina.

FUNIBER – Quais são os próximos passos da campanha?

JULIANO – Este ano vamos ampliar nossa campanha, que passa a ser articulada com movimentos “Não Fracking” da América Latina, Estados Unidos e Europa. Temos notícia que a Espanha está votando uma proposição para proibir Fracking, o que consolida a nossa luta e estimula mais adesão à causa. Mas queremos mais: além de informar e mobilizar as pessoas, aprovar uma legislação nacional que proíba o fraturamento hidráulico no Brasil.

FUNIBER – Qual é o papel da academia nesse processo?
JULIANO
 – Em todos estes anos de ativismo, sempre acreditei e defendi que a academia deveria ser o fórum para debate onde propor ideias e modelos culturais. Por isso estou sempre estimulando a participação de diretores, professores e alunos nas questões às quais estou envolvido. E no caso da Fundação Universitária Iberoamericana (FUNIBER), que acolheu a mim e a meu projeto de pesquisa com tanta generosidade, sinto que a parceira será muito proveitosa. Vamos desenvolver um amplo e inédito trabalho de pesquisa do Fracking no Brasil e na América latina, com ênfase na resistência do avanço e implantação da indústria mais suja e poluente que temos conhecimento na atualidade. Tenho convicção que juntos, vamos transformar realidades, propor soluções e criar condições para uma nova realidade neste continente, que é uma terra sem Fracking.

O objetivo dos programas da área ambiental da FUNIBER é de formar profissionais que saibam colaborar em equipes multidisciplinares de trabalho no campo da consultoria e no contexto de pesquisa, mediante o emprego de ferramentas TIC. Neste sentido, os profissionais contam com diferentes especializações e mestrados -próprios e oficiais- para a solução de problemas ambientais e adoção de boas práticas no âmbito urbano e industrial.

A poluição gerada pelo uso da técnica de fraturamento hidráulico está estendendo-se no planeta, que ações nós, cidadãos, deveríamos tomar? O que você pode fazer para frear a poluição gerada pelo fracking em seu país? Comente no blog e compartilhe suas ideias.