Discussão sobre segurança e armazenamento definitivo de dejetos nucleares é questão ainda não solucionada na Alemanha, e o destino do lixo atômico torna-se tema de campanha eleitoral.
Muitos europeus temem o aumento crescente do preço da energia, ao mesmo tempo que temem se tornar dependentes do petróleo e do gás natural da Rússia. Em alguns países, esse temor levou à construção de novas usinas nucleares.
Entre esses países estão a França, a Itália, a Suécia e a Finlândia, mas não a Alemanha. Todos os partidos representados no Parlamento alemão defendem que o país abandone a energia nuclear. Apesar disso, poucos dias antes das eleições parlamentares alemãs, a política nuclear se tornou centro de discussões acirradas.
Basicamente, as discussões giram em torno de dois pontos fundamentais: uma data para o desligamento das usinas atômicas em funcionamento na Alemanha e um local para o depósito definitivo dos rejeitos radioativos.
Abandono do abandono
A coalizão formada por democrata-cristãos e social-cristãos (CDU e CSU) e social-democratas (SPD), que governa o país, entrara em acordo, no início de sua legislatura, quanto a um cronograma de abandono da energia nuclear. Esse acordo prevê que, até o ano 2021, todas as 17 usinas nucleares alemãs sejam paulatinamente desligadas.
CDU e CSU pretendem reexaminar esse acordo. Segundo a vontade dos conservadores, o plano de não construção de novos reatores no país seria mantido, mas as instalações existentes deveriam funcionar mais tempo do que o previsto.
Planos conservadores
A chanceler federal Angela Merkel, líder dos democrata-cristãos, afirma que “nós não podemos abandonar a energia nuclear tão rapidamente. Mas a longo prazo, ou seja, na segunda metade deste século, vamos dispor de uma grande quantidade de energias renováveis. Nós temos certeza de que, algum dia, abandonaremos a energia nuclear”.
Caso vença as eleições, a premiê pretende realizar tal política atômica numa coalizão de governo como o Partido Liberal Democrata, que defende posição quase idêntica. Os liberais também consideram a energia nuclear uma tecnologia de transição até que as energias renováveis possam ser produzidas em quantidade suficiente.
“Ainda não estamos em posição de suprir a demanda energética com energias regenerativas, que devem ser ampliadas. Até que isso se torne realidade, não devemos abandonar a pesquisa na área de tecnologia nuclear”, argumenta o presidente do Partido Liberal Democrata, Gudo Westerwelle.
A Esquerda
Os três outros partidos presentes no Parlamento alemão — SPD, Partido Verde e A Esquerda, posicionam-se de forma estritamente contrária à prorrogação do tempo de vida útil das usinas nucleares para além de 2021.
A Esquerda reivindica até mesmo o desligamento imediato de todas as instalações nucleares, principalmente porque ainda não foi encontrado, depois de décadas, um lugar onde o lixo atômico possa ser armazenado definitivamente, explica Brigitte Ostmeyer, membro do diretório do partido.
“Por esse motivo, A Esquerda rejeita a construção de novas instalações atômicas e exige um abandono mais rápido da energia nuclear. Energias renováveis, mais eficiência e mais economia energética — essa é a única estratégia promissora para deter a catástrofe climática”, argumenta Ostmeyer.
Os Verdes
A questão ão solucionada do armazenamento definitivo do lixo atômico também é de central importância para os verdes. O seu principal candidato para as próximas eleições é o ex-ministro alemão do Meio Ambiente Jürgen Trittin.
“Paro de produzir lixo quando não sei onde depositá-lo. E, portanto, as eleições parlamentares alemãs também são uma discussão sobre a pergunta: por meio do prolongamento da vida útil de usinas atômicas, queremos continuar bloqueando o desenvolvimento de energias renováveis e produzir mais lixo atômico — sim ou não?”.
Segundo o político verde, através de investimentos abrangentes em tecnologias ambientais, centenas de milhares de novos postos de trabalho poderiam ser criados.
Os social-democratas
Em seu programa eleitoral, os social-democratas defendem o mesmo ponto de vista. Ambos os partidos estão de acordo que a indústria atômica deva participar dos custos do lixo atômico.
O político social democrata e atual ministro alemão do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel, argumenta que “não pode ser verdade que primeiramente é feito o armazenamento barato do lixo atômico em depósitos inferiores, como Asse e Morsleben, e agora o saneamento desses depósitos catastróficos tem que ser pago pelo contribuinte. Nesse ponto, a lei da energia atômica tem que ser mudada. Nós precisamos de um imposto de combustível nuclear, para que a própria indústria atômica pague o que provoca”.
Isso sairia caro para a indústria da energia atômica. Somente o saneamento dos depósitos de lixo nuclear mencionados por Gabriel está estimando em 6 bilhões de euros.
Fonte: Panagiotos Kouparanis e Carlos Albuquerque, por Deutsch Welle