lixo-nuclear01Discussão sobre segurança e armazenamento definitivo de dejetos nucleares é questão ainda não solucionada na Alemanha, e o destino do lixo atômico torna-se tema de campanha eleitoral.

Muitos europeus temem o aumento crescente do preço da energia, ao mesmo tempo que temem se tornar dependentes do petróleo e do gás natural da Rússia. Em alguns países, esse temor levou à construção de novas usinas nucleares.

Entre esses países estão a França, a Itália, a Suécia e a Finlândia, mas não a Alemanha. Todos os partidos representados no Parlamento alemão defendem que o país abandone a energia nuclear. Apesar disso, poucos dias antes das eleições parlamentares alemãs, a política nuclear se tornou centro de discussões acirradas.

Basicamente, as discussões giram em torno de dois pontos fundamentais: uma data para o desligamento das usinas atômicas em funcionamento na Alemanha e um local para o depósito definitivo dos rejeitos radioativos.

Abandono do abandono

Protesto contra energia atômica reuniu 50 mil pessoas no início de setembro em Berlim
Protesto contra energia atômica reuniu 50 mil pessoas no início de setembro em Berlim

A coalizão formada por democrata-cristãos e social-cristãos (CDU e CSU) e social-democratas (SPD), que governa o país, entrara em acordo, no início de sua legislatura, quanto a um cronograma de abandono da energia nuclear. Esse acordo prevê que, até o ano 2021, todas as 17 usinas nucleares alemãs sejam paulatinamente desligadas.

CDU e CSU pretendem reexaminar esse acordo. Segundo a vontade dos conservadores, o plano de não construção de novos reatores no país seria mantido, mas as instalações existentes deveriam funcionar mais tempo do que o previsto.

Planos conservadores

A chanceler federal Angela Merkel, líder dos democrata-cristãos, afirma que “nós não podemos abandonar a energia nuclear tão rapidamente. Mas a longo prazo, ou seja, na segunda metade deste século, vamos dispor de uma grande quantidade de energias renováveis. Nós temos certeza de que, algum dia, abandonaremos a energia nuclear”.

Caso vença as eleições, a premiê pretende realizar tal política atômica numa coalizão de governo como o Partido Liberal Democrata, que defende posição quase idêntica. Os liberais também consideram a energia nuclear uma tecnologia de transição até que as energias renováveis possam ser produzidas em quantidade suficiente.

“Ainda não estamos em posição de suprir a demanda energética com energias regenerativas, que devem ser ampliadas. Até que isso se torne realidade, não devemos abandonar a pesquisa na área de tecnologia nuclear”, argumenta o presidente do Partido Liberal Democrata, Gudo Westerwelle.

A Esquerda

Os três outros partidos presentes no Parlamento alemão — SPD, Partido Verde e A Esquerda, posicionam-se de forma estritamente contrária à prorrogação do tempo de vida útil das usinas nucleares para além de 2021.

A Esquerda reivindica até mesmo o desligamento imediato de todas as instalações nucleares, principalmente porque ainda não foi encontrado, depois de décadas, um lugar onde o lixo atômico possa ser armazenado definitivamente, explica Brigitte Ostmeyer, membro do diretório do partido.

“Por esse motivo, A Esquerda rejeita a construção de novas instalações atômicas e exige um abandono mais rápido da energia nuclear. Energias renováveis, mais eficiência e mais economia energética — essa é a única estratégia promissora para deter a catástrofe climática”, argumenta Ostmeyer.

Os Verdes

A questão ão solucionada do armazenamento definitivo do lixo atômico também é de central importância para os verdes. O seu principal candidato para as próximas eleições é o ex-ministro alemão do Meio Ambiente Jürgen Trittin.

“Paro de produzir lixo quando não sei onde depositá-lo. E, portanto, as eleições parlamentares alemãs também são uma discussão sobre a pergunta: por meio do prolongamento da vida útil de usinas atômicas, queremos continuar bloqueando o desenvolvimento de energias renováveis e produzir mais lixo atômico — sim ou não?”.

Segundo o político verde, através de investimentos abrangentes em tecnologias ambientais, centenas de milhares de novos postos de trabalho poderiam ser criados.

Os social-democratas

Em seu programa eleitoral, os social-democratas defendem o mesmo ponto de vista. Ambos os partidos estão de acordo que a indústria atômica deva participar dos custos do lixo atômico.

O político social democrata e atual ministro alemão do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel, argumenta que “não pode ser verdade que primeiramente é feito o armazenamento barato do lixo atômico em depósitos inferiores, como Asse e Morsleben, e agora o saneamento desses depósitos catastróficos tem que ser pago pelo contribuinte. Nesse ponto, a lei da energia atômica tem que ser mudada. Nós precisamos de um imposto de combustível nuclear, para que a própria indústria atômica pague o que provoca”.

Isso sairia caro para a indústria da energia atômica. Somente o saneamento dos depósitos de lixo nuclear mencionados por Gabriel está estimando em 6 bilhões de euros.

Fonte: Panagiotos Kouparanis e Carlos Albuquerque, por Deutsch Welle