A partir de uma revisão literária, Priscilla Alderson, professora de estudos sobre a infância da Social Research Unit, da Universidade de Londres, publicou um artigo sobre algumas perspectivas e práticas de pesquisa com crianças. O estudo apresenta a criança não como um objeto de pesquisa, mas como sujeitos capazes de “relatar visões e experiências válidas”.
De acordo com a autora, é importante considerar o valor da criança em relação à sua competência, evitando infantilizá-la e vê-la como imatura. As experiências infantis podem ser ricas e complementares aos estudos dos adultos. “Uma primeira maneira de as crianças serem pesquisadores são os projetos cotidianos que fazem na escola”, aponta a professora Alderson.
A autora do artigo cita alguns exemplos que ela encontrou em escolas que visitou: um gráfico com bichinhos de estimação que as crianças da turma possuíam, entrevistas realizadas sobre o divórcio dos pais de alguns colegas e discussões em grupo e realização de projetos coletivos a partir de vídeos apresentados na escola.
Segundo Alderson, estas atividades não deveriam ser vistas somente como exercícios de aula. Eles poderiam indicar atividades mais valorizadas pela sociedade em geral. Uma das possibilidades de desenvolver a pesquisa entre as crianças é aproveitar-se do interesse infantil: “muitas delas estão acostumadas a questionar, investigar e aceitar resultados inesperados, mudar de ideia, e assumir que seus conhecimentos são incompletos e provisórios”, escreve.
No Brasil, no final dos anos 80, o movimento nacional de crianças de rua influenciou a redação de códigos legais que vão da nova Constituição Federal às leis municipais que integram os direitos das crianças, com base nas pesquisas feitas por eles.
Já em Londres, num projeto comunitário, crianças entre 3 e 8 anos usaram câmeras e fizeram pesquisas de campo com entrevistas a crianças moradoras para saber como poderiam melhorar os conjuntos habitacionais. Após a pesquisa, realizaram um relatório ilustrado que foi apresentado e discutido com autoridades locais.
Para os estudantes dos cursos de Educação da FUNIBER, é interessante ter em conta a conclusão da autora: “a crescente literatura sobre crianças como pesquisadoras sugere que elas são um recurso subestimado e subutilizado”.
Fonte: http://www.scielo.br/pdf/es/v26n91/a07v2691.pdf
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