O tempo é também uma questão cultural. Segundo o antropólogo Edward T. Hall, as regras do tempo são uma “linguagem silenciosa” para cada cultura, nem sempre explícitas mas subentendidas. “Deve-se conhecer o sistema de tempo do país. Culturas diferentes atribuem valores diversos para as unidades de tempo.”
O mundo tem o tempo unificado pelas horas e calendários, como se todos vivêssemos no mesmo ritmo. Porém, não significa que estamos no mesmo passo. Algumas pessoas vivem um movimento lento enquanto em outras sociedades as pessoas sentem pressão no gerenciamento das horas.
O psicólogo social Robert V. Levine, da California State University em Fresno, realizou estudos sobre o ritmo da vida em 31 países. Em A geography of time (1997), descreve diferenças entre os países a partir de três indicadores: velocidade do caminhar, rapidez de um funcionário em vender um selo e a precisão dos relógios públicos. Nessas simples variáveis, ele classificou entre mais rápidos a Suíça, a Irlanda, a Alemanha, o Japão e a Itália. Entre os países mais lentos estão Síria, El Salvador, Brasil, Indonésia e México.
Alguns antropólogos estudam a relação de diferentes culturas com o tempo. Kevin Birth, do Queens College, explorou a proximidade entre o tempo e o dinheiro na sociedade em Trinidad. Avaliou populações rurais e descobriu que fazendeiros não reconheciam o provérbio “tempo é dinheiro”, “economizar o tempo” ou “gerenciar o tempo”, embora tivessem TV por satélite e estivessem familiarizados com a cultura popular ocidental. Já os alfaiates das mesmas áreas tinham essa noção. Birth concluiu que o trabalho assalariado alterou o ponto de vista dos alfaiates. “As ideias de associar tempo a dinheiro não são globais”, explicou Birth.
Já Ziauddin Sardar, autor e crítico britânico muçulmano, escreveu sobre o tempo e culturas islâmicas, especialmente a seita fundamentalista wahhabista. “No Islã o tempo é uma tapeçaria que incorpora o passado, o presente e o futuro. O passado é sempre presente.”, afirma Sardar. Os seguidores do wahhabismo, muito difundido na Arábia Saudita e entre os membros da Al Qaeda, buscam recriar os dias idílicos da vida do profeta Maomé. “A dimensão mundana do futuro foi suprimida” por eles, segundo Sardar.
Então, para um estrangeiro sempre é bom saber mais sobre o sistema cultural do tempo no país visitado. No Brasil, poderá chegar tarde num encontro. Mas na Suíça, seja pontual ou terá que se explicar bastante.
Fonte:http://www2.uol.com.br/sciam/artigos/relogio_das_culturas.html
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