Pesquisa demonstra que profissionais da saúde latino-americanos têm menor empatia médica em comparação com seus companheiros espanhóis.
A empatia é uma habilidade que é muito importante no desenvolvimento da relação médico-paciente. Os profissionais da saúde podem desenvolver esta qualidade durante sua formação, mas até agora se desconhecia se os fatores ambientais podiam influenciar no desenvolvimento de dita habilidade. Para determinar até que ponto o ambiente social e cultural pode influenciar no desenvolvimento da empatia nos profissionais da saúde, o Dr. Luís Vivanco, Diretor Acadêmico do Mestrado em Bioética da FUNIBER, e outros três pesquisadores, participaram do desenvolvimento do estudo titulado “Empatia médica em médicos que realizam o programa de formação médica especializada. Estudo comparativo intercultural na Espanha”. A seguir, mostramos os principais resultados do estudo.
O Dr. Mohammadreza Hojat explica que a empatia é um atributo no qual a cognição tem um papel mais ativo que a emoção durante o processo que permite aos médicos entender as experiências, inquietações e perspectivas do paciente, conseguindo, ao mesmo tempo, comunicar dito entendimento. Existem fatores que permitem potencializar o desenvolvimento da empatia; por essa razão realizou-se este estudo, para identificar as condições que influenciam no desenvolvimento desta habilidade em profissionais da saúde.
Melhorando o trato com o paciente
Participaram do estudo 104 médicos residentes, entre 24 e 57 anos, durante o desenvolvimento de programas de formação médica especializada nos serviços de atenção primária e hospitalar. Como ferramenta principal para a avaliação utilizou-se a Escala Jefferson de Empatia Médica (JSE-HP) a fim de medir três fatores entre os participantes: a tomada de perspectiva, a atenção compassiva, e a disposição de colocar-se no lugar do paciente. Analisou-se também o contraste entre grupos segundo o ano de residência e a associação entre empatia e idade.
Realizaram-se perguntas para determinar se os profissionais que participaram da entrevista tinham um modelo profissional para lidar com os pacientes, e questionou-se se tinham tido contato com outros profissionais sanitários que pudessem ter ajudado a construir tal modelo.
Introduziram-se perguntas para determinar se os médicos tinham tido experiência no trato com pacientes, além de detalhar o tempo transcorrido entre o término dos estudos de graduação e o início da residência médica, para identificar os casos que tinham uma formação médica continuada; considerando uma interrupção máxima de um ano para os espanhóis e até dois anos para os latino-americanos, ponderando que se introduziu esta diferença para compensar o ano de serviços médicos em áreas rurais que se estabelece para os recém-graduados na América Latina.
Crescendo em empatia
Os dados levantados pelo estudo permitiram identificar que os médicos espanhóis obtiveram um nível de empatia maior que os médicos latino-americanos. Os médicos que conseguiram desenvolver um modelo profissional tiveram uma pontuação de empatia mais elevada que aqueles que não o tinham ou o estavam desenvolvendo. É importante destacar que os participantes que conseguiram estabelecer encontros positivos com outros profissionais durante sua vida e obtiveram informação que permitisse construir um modelo profissional conseguiram uma pontuação mais alta. Manter uma formação continuada teve influência positiva nos participantes.
Os pesquisadores observaram uma associação inversa entre a idade e os níveis de empatia, e uma diferença entre aqueles que mantiveram uma formação médica continuada e aqueles que tiveram sua formação interrompida. Estes dados permitiriam aprofundar o debate sobre os fatores que influenciam na deterioração da empatia em longo prazo.
O coração do problema
De acordo com o documento, o baixo desenvolvimento da empatia entre os médicos latino-americanos pode originar-se em fatores sociais presentes no sistema sanitário da América Latina, tais como: “a desigualdade no acesso à saúde, sistemas altamente hierarquizados, abuso de autoridade, discriminação, problemas de corrupção ou sobrecarga trabalhista”. O documento destaca que o entorno influencia, acarretando em um “baixo desenvolvimento de empatia entre os médicos latino-americanos que carecem de modelos profissionais definidos”.
Esta pesquisa confirma que o entorno cultural tem um importante efeito no desenvolvimento da empatia. Este tipo de estudos cobra agora maior importância, considerando que a interculturalidade tem maior interesse no contexto da educação médica no âmbito internacional, principalmente em países com um alto fluxo migratório.
O documento apresenta algumas limitações associadas a sua elaboração transversal, porque não permite fazer uma avaliação evolutiva do processo de geração da empatia durante a residência médica, mas os pesquisadores indicam que “a comparação entre os grupos segundo o ano de residência indica que o entorno hospitalar pode ter um papel de influência no desenvolvimento da empatia”. Outros autores ressaltam que o desenvolvimento desta qualidade é produto da “construção de um raciocínio moral ou da aquisição de uma maior autoconfiança no manejo das habilidades profissionais que acompanham o processo de aprendizagem”. Considera-se no documento que tanto o ambiente como o indivíduo poderiam ter um papel ativo no desenvolvimento da empatia, mas o estudo destes temas requer uma pesquisa de longo prazo.
Para um novo modelo
Os pesquisadores ressaltam que é necessário esforçar-se mais para melhorar o desenvolvimento da empatia entre os profissionais sanitários latino-americanos. Reconhece-se que foi feito um esforço inicial, mas ao comparar a realidade da Espanha e América Latina, reconhecem-se diferenças “no âmbito da educação médica, dos sistemas de saúde, da demanda social e do acesso e uso dos recursos de saúde”, considerando-se que o conjunto destas diferenças pode ter algum tipo de efeito no desenvolvimento da empatia do médico.
Destaca-se como um aspecto muito importante a influência dos contatos positivos entre médicos, que permitem a construção de modelos profissionais exitosos. Este aspecto deve ser ponderado para a construção de um modelo de conduta profissional que aponte ao desenvolvimento da empatia no pessoal médico.
Pesquisa sobressalente
A pesquisa realizada pelo Dr. Luís Vivanco e seus colegas, foi publicada na revista Atención Primaria. O projeto deste estudo foi apresentado na Conferência Anual da Associação de Educação Médica dos Estados Unidos, realizada na Filadélfia em 2012. No ano 2013, o estudo recebeu o prêmio «Melhores ideias em gestão em Saúde», outorgado pelo portal Diário Médico da Espanha.
Pode-se fazer o download do estudo em formato PDF no seguinte link da revista Atención Primaria.
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