José Pacheco é uma referência internacional em modelos educativos a partir de um projeto implementado na década de 1970 em Portugal, a Escola da Ponte, na Vila das Aves. Atua entre Brasil e Portugal com projetos e programas educacionais. É autor de livros e artigos sobre educação.
A partir de um questionário realizado por FUNIBER e as universidades da rede, pudemos observar que existe a percepção de que um dos desafios mais importantes, apontados pelos participantes, refere-se à compreensão do papel dos professores no contexto atual. Existe realmente um novo papel para os professores? Se sim, quais habilidades seriam necessárias para fazê-lo? Existe consenso na comunidade educativa sobre esta nova caracterização do professor?
Os projetos humanos contemporâneos não se coadunam com as práticas escolares que ainda temos. Requerem que se conceba uma escola que a todos e a cada qual dê oportunidades de ser e de aprender.
Urge conceber novas construções sociais de aprendizagem, que, gradual e prudentemente, substituam um modelo educacional, que deu resposta às necessidades sociais do século XIX, mas que se manifesta inadequada à contemporânea 4.0.
As escolas carecem de um novo sistema ético e de uma matriz axiológica baseada no saber cuidar e conviver. E de profissionais do desenvolvimento humano (sobretudo, professores) dispostos a reelaborar a sua cultura pessoal e profissional e a viabilizar a transição para práticas fundadas nos paradigmas da aprendizagem e da comunicação.
As escolas não são prédios, nem salas de aula. Escolas são pessoas, que participam na produção conjunta de conhecimento, em espaços sociais de aprendizagem, onde são estabelecidas interações humanas, que dão sentido ao quotidiano e influenciam trajetórias de vida.
É preciso (e é possível) experienciar uma escola realmente “pública”. E, não negligenciando o potencial da razão, juntar-lhe as emoções, porque não se aprende o que o outro diz, se aprende o outro.
No Brasil, em particular, existem muitas iniciativas e empreendimentos que surgem fora dos centros educacionais, e que por vezes são integrados por eles, que buscam colaborar com a formação de professores. Você acha que esta é uma alternativa para superar os desafios da formação docente e melhorar os processos de ensino?
No Brasil, como em Portugal, continuamos cativos de um modelo de formação cartesiano, que impede um re-ligare essencial.
Sabemos que um formador não ensina aquilo que diz, mas transmite aquilo que é, veicula competências de que está investido. Mas, ainda há quem ignore a existência do princípio do isomorfismo na formação, quem creia que a teoria precede a prática, quem considere o formando como objeto de formação, quando deveria ser tomado como sujeito em autotransformação, no contexto de uma equipe, com um projeto.
São raros os projetos em que se tenta superar os desafios da formação. Prevalecem práticas carentes de comunicação dialógica, culturas de formação individualistas, de competitividade negativa, de que está ausente o trabalho em equipe.
A comunicação, e especialmente o diálogo, é um processo fundamental para a formação, informação e participação da comunidade educativa. Em relação aos desafios da formação de professores, como devemos abordar a comunicação como parte da formação de professores?
Ambos os países alimentam um sistema de ensino obsoleto, baseado na burocracia. Professores e alunos são objeto de reformas reformadas. Urge acabar com o experimentalismo. Alunos e professores não podem ser tratados como cobaias de laboratório.
Acredito nos professores e parto daquilo que eles são, para que se sintam seguros no processo de mudança. Tento instalar o diálogo. Aproveito a sua formação experiencial. Concedo todo o tempo necessário e condições de auto-transformação.
Talvez apenas seja preciso que os professores, para além de serem competentes, sejam éticos, para que a mudança se opere.
Este conteúdo foi elaborado pela área de Ação Social da FUNIBER com a colaboração da área de Formação de Professores, no âmbito do Dia Mundial do Professor.