Pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) afirmam que o número de idosos (pessoas acima dos 60 anos) no Brasil equivalerá à população de crianças. Com uma expectativa média de vida de 81 anos, o Brasil contará com uma média de 3 trabalhadores para cada aposentado. Essa projeção evidencia a necessidade dos órgãos públicos e privados de adotarem medidas que garantam o bem-estar da população.

Refletindo sobre este tema, a longevidade dos profissionais e suas consequências, Lúcia França, professora do programa de Mestrado em Psicologia da Universidade Salgado de Oliveira, no Rio de Janeiro, passou a pesquisar sobre a atitudes dos gestores de Recursos Humanos frente ao envelhecimento dos trabalhadores nas organizações.

França salienta que hoje a maioria dos profissionais de Recursos Humanos não dão a devida atenção aos profissionais próximos da aposentadoria. A área de RH pode identificar preconceitos existentes quanto à capacidade laboral e cognitiva dos mais velhos para promover a integração entre as diversas faixas etárias. “Além disso, é preciso promover oportunidades de projetos intergeracionais em função de problemas comuns encontrados na prática do trabalho, para que os trabalhadores possam valorizar-se, beneficiarem-se mutuamente, reduzindo os possíveis conflitos intergeracionais”, complementa.

O objetivo da pesquisa de França é investigar a percepção dos gestores das áreas de Recursos humanos em relação ao envelhecimento populacional e aos trabalhadores mais velhos nas suas organizações. “Ao longo dos 20 anos em que trabalho com este tema, participei de diversas conquistas como a Política Nacional do Idoso em 1994, que embasou o Estatuto do Idoso em 2003, legislação que trouxe muitos benefícios e ações nestas áreas. Vi nascer e se desenvolver diversas universidades abertas para a terceira idade e programas sociais, culturais e de saúde para os idosos, organizados pelas prefeituras e governos estaduais. Desde 1990, as empresas passaram a desenvolver Programas de Preparação para a Aposentadoria. Contudo, ainda faltam políticas, diretrizes e ações voltadas para os trabalhadores mais velhos. Não acredito que o RH das organizações tenha consciência da sua responsabilidade diante disto. Em 2040, a população irá parar de crescer, mas o número dos idosos terá aumentado vertiginosamente. Pense que a expectativa de vida brasileira não passava de 51 anos, enquanto hoje a média de vida dos brasileiros beira os 74 anos. Temos 22 milhões de pessoas com 60 anos ou mais e em menos de 30 anos, segundo o IBGE, teremos aproximadamente 64 milhões. Diversas medidas precisam ser tomadas pelos órgãos públicos e privados para que os recursos sejam suficientes para garantir o bem-estar para a população que envelhece”, diz França.

De acordo com a professora, muitos aposentados vivem mais tempo na aposentadoria do que na vida de trabalho. Se as pessoas passarem a viver até 100 anos, algo a se considerar com o aumento constante da expectativa de vida, essas pessoas precisarão trabalhar por mais tempo, se tiverem saúde e se assim desejam, afinal, a previdência não terá recursos para pagar tantos benefícios de aposentadoria. É preciso haver um debate entre as organizações, devidamente representadas pelos profissionais de Recursos Humanos, sindicatos, previdência pública e privada, juntamente com os órgãos governantes para criar ações conjuntas para permitir oportunidades de trabalhos em regime de meio período. Outras ações também precisam ser discutidas, como o apoio a profissionais que precisam continuar trabalhando como complementação de renda, o oferecimento de programas de preparação para a aposentadoria (cuja obrigatoriedade é prevista em legislação – Programa Nacional do Idoso e Estatuto do Idoso).

Tudo demonstra que as empresas brasileiras não conseguem lidar com os profissionais próximos à aposentadoria. Existe resistência em relação ao respondimento de questionários sobre o tema, e isto demonstra que os profissionais de RH sequer estão sensibilizados para esta situação. A questão do envelhecimento é mais uma faceta a ser trabalhada em escolas e organizações. “Vejo a mídia educando as pessoas quanto aos preconceitos relacionados à homofobia, aos negros, mas não vejo o preconceito contra os idosos – ageismo -, ser abordado, especialmente no que toca às possibilidades de aprendizagem, trabalho e participação destas pessoas. Teremos muitos brasileiros centenários, e é impossível que o sistema previdenciário mantenha-se sustentável com pessoas aposentando-se tão cedo. É preciso aproveitar o potencial dos profissionais que desejam e têm saúde para continuar no mercado. Essas pessoas devem ter oportunidade de se atualizar e serem competitivas no mercado. Contudo, tendo mais controle do tempo e da vida, para desenvolverem lazer e prazer à medida que envelhecem”, afirma França.

A respeito dos programas já instituídos pelas organizações com o intenção de preparar os profissionais para a aposentadoria, França reflete que dentro de uma filosofia de educação ao longo da vida, os programas destinados a aposentadoria são oportunidades de aprendizagem, com a finalidade de ajudar as pessoas a colocar o tempo em seu favor e avaliar investimentos, não apenas financeiros, mas investimentos de saúde, relacionamentos sociais, afetivos e familiares. A preparação para a aposentadoria deve priorizar o planejamento de futuro, redimensionando o projeto de vida de forma a obter mais qualidade e bem-estar. Desta forma, França deixa claro: “o programa de preparação para a aposentadoria deve ser proposto por uma equipe sensibilizada e preparada tecnicamente. Ter um bom mecanismo de divulgação para que efetivamente possa ter a adesão dos participantes. Deve ter continuidade e acompanhamento, com conteúdos estabelecidos por diagnóstico prévio, sendo os aposentados avaliados periodicamente, especialmente dois anos após a aposentadoria.”

Pesquisa “Atitudes dos gestores de Recursos Humanos frente ao envelhecimento dos trabalhadores nas organizações”:

Mais informações sobre como participar dessa pesquisa com Lúcia França, professora do Curso de Mestrado em Psicologia da UNIVERSO – e-mail: luciafranca@luciafranca.com