Região costeira de Lima sofreu diferentes tipos de intervenção desde os anos 60 e a construção atual de um hotel questiona a sua condição de intangibilidade.
A Costa Verde foi um projeto viário criado pela prefeitura de Lima (Peru) em 1960 para proteger o alcantilado da cidade e gerar um conjunto de praias, ao longo de mais de 100 km. No entanto, desde sua inauguração, o projeto passou por diferentes tipos de intervenção, que variaram da aposta pelo uso público até propostas de desenvolvimento urbano e investimento privado.
Com a intenção de revitalizar a zona e torná-la mais aberta ao público e aos pedestres, diferentes projetos já foram realizados. Em 2006, por exemplo, o escritório de arquitetos URVIA elaborou um plano maestro a pedido do governo, no valor de 300 milhões de dólares, que previa separar as ruas do alcantilado com o objetivo de criar espaços para o estabelecimento de lojas e moradias, além de um calçadão com mais vegetação.
Já em 2008, o plano anterior foi substituído pelo projeto do arquiteto Augusto Ortiz de Zevallos, que previa a construção de um calçadão conectado aos principais eixos da cidade, por meio de pontes e escadas. O projeto foi iniciado em 2012, mas sem grandes resultados.
Outra iniciativa de revitalização da zona aconteceu recentemente, fruto de uma parceria entre instituições públicas e privadas. O Club Regatas, ao lado da prefeitura de Lima e de Chorrillos, do Colégio de Arquitetos, da Associação de Escritórios de Arquitetura e da Associação de Pescadores José Olaya, realizaram um concurso para a recuperação e o desenvolvimento da Playa Pescadores. Dos 106 participantes, ganhou o projeto do arquiteto independente Francisco Masgo, que está baseado na interação do espaço público e da atividade pesqueira, fazendo uma redistribuição das áreas para os pescadores com a remodelação do mercado e da zona de restaurantes em frente ao mar.
Hotel polêmico
Atualmente, o uso da Costa Verde voltou a ser tema de debate depois de colocarem em prática a edificação de um hotel, cuja construção havia sido aprovada antes da entrada em vigor de uma lei que considera a região intocável. O hotel faz parte do projeto inicial do shopping Larcomar, que foi aprovado em 1995, mas que ainda não havia saído do papel.
O questionamento para sua construção veio em função da ordenança aprovada em 2010 que passou a considerar a Costa Verde uma região intangível, permitindo apenas projetos de investimento público de infraestrutura viária que preservem a paisagem natural.
No entanto, de acordo com reportagem publicada no jornal El Comercio, em setembro deste ano começaram os trabalhos preliminares para a efetiva construção do hotel, com estudos de topografia no local. O empreendimento terá 18 andares, 279 quartos e custará 900 milhões de dólares.
O tipo de uso que se quer dar para a Costa Verde de Lima é um tema em aberto e ainda gera muitas discussões em torno ao uso viário ou uso pedestre, entre intervenção pública ou privada, ou ainda entre preservação ambiental e aposta por novos projetos imobiliários.
Trata-se de um caso de diferentes tipos de intervenção urbana que podem servir como referência para os alunos da Área de Projetos em Arquitetura, Desenho e Urbanismo da FUNIBER, que podem utilizar os conhecimentos adquiridos durante os cursos para analisar e questionar os diferentes projetos desenvolvidos até o momento na Costa Verde de Lima.
Fontes: http://fnbr.es/1zf, http://fnbr.es/1zg, http://fnbr.es/1zh
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