Uma pesquisa sobre o impacto da publicidade de cadeias de fast food, encomendada pelo Projeto Criança e Consumo do Instituto Alana, identificou que na opinião de 79% dos pais e mães de crianças de até 11 anos este tipo de propaganda prejudica os hábitos alimentares dos pequenos.
A pesquisa foi realizada em território brasileiro e abrangeu um total de 596 pessoas. 78% concordaram que a publicidade alimentos não saudáveis levam as crianças a pedirem aos pais pelos produtos anunciados e 76% acham que os comerciais dificultam os esforços dos pais em educar os filhos a se alimentarem de forma mais saudável.
Para a coordenadora do Projeto Criança e Consumo, Isabella Henriques, esses dados demonstram a urgência de regulamentar as publicidades de alimentos com altos teores de açúcar, gorduras e sódio direcionadas ao público infantil
“A obesidade infantil já é uma realidade no Brasil e é preciso agir rapidamente para frear o aumento dos altos índices do problema entre crianças. Sabemos que só a regulação da obesidade não será suficiente para isso, mas sem dúvida é uma peça fundamental, que ajudará no processo de reeducação alimentar da população de modo geral”, diz.
Foi publicado pela Anvisa em 2010 uma resolução neste sentido, que está suspensa para as maiores empresas do setor alimentício. A Resolução nº 24 determina que as empresas devem publicas juntamente com o comercial de seus produtos um aviso sobre eventuais problemas em caso de consumo excessivo desses alimentos. Todavia, a regra não estabelece diferenças entre o público infantil e adulto.
No fim de abril, durante evento da Organização Mundial de Saúde (OMS) para debater doenças crônicas não transmissíveis, a diretora geral organização, Margaret Chan, ressaltou que milhões de mortes causadas por esses problemas podem ser facilmente prevenidas com políticas públicas amplas e contundentes. O que inclui a regulação de questões cujo impacto é extremamente negativo, como é o caso da publicidade de alimentos ultraprocessados e não saudáveis para crianças e adolescentes.
“Aqui está uma pergunta que eu gostaria de fazer para as indústrias de alimentos e bebidas. Será realmente que produzir, comercializar, divulgar publicidade de forma agressiva, especialmente para as crianças, de produtos que prejudicam a saúde dos seus clientes é um bom negócio?”, questionou Margaret Chan.
No mundo
O governo dos Estados Unidos, país ícone do junk food, lançou recentemente uma série de diretrizes para restringir a publicidade de alimentos não saudáveis direcionada ao público infantil. Estabelecidas pelo FTC (Federal Trade Commission) e mais três órgãos do governo americano, as normas mandam um recado claro para a indústria alimentícia: façam produtos mais saudáveis ou deixem de anunciá-los para crianças.
A preocupação se estende para a Europa. Inglaterra e França, por exemplo, possuem regras claras para publicidade de alimentos com alto teor de açúcar, gorduras e sódio – o primeiro país proíbe veiculação de comerciais em programas dirigidos para crianças e adolescentes de até 16 anos; a França veicula avisos com mensagens de atitudes saudáveis depois das publicidades desse tipo de alimento.