Dra. Patrícia A. Oliveira – IMeN
A anorexia alcoólica, também conhecida como Drunkorexia (termo criado nos EUA) não é uma doença e sim um sintoma do alcoolismo. Se resume a perda de apetite provocada pelo consumo excessivo de álcool. É um tema controverso já que há duvidas se devemos considerar um transtorno alimentar especificamente, uma vez que a doença vem atingindo cada vez mais mulheres jovens, preocupadas com a imagem corporal – o que caracteriza a anorexia, ou se trata-se de uma deficiência metabólica consequente a uma dependência química em estágio avançado.
A anorexia nervosa atinge de 0,5 a 1% da população feminina e 90% dos casos de anorexia nervosa são encontrados em mulheres. A frequência da doença vem aumentando devido a importância que a mídia dá à magreza e consequentemente aos valores distorcidos incentivados pela sociedade. As mulheres jovens, à busca de um corpo perfeito como os das atrizes, modelos e cantoras, tendem a procurar formas de chegar ao aspecto físico desejado e a anorexia pode se manifestar neste momento. De acordo com o National Eating Disorders Association dos EUA, o alcoolismo tem sido cada vez mais associado aos distúrbios alimentares em jovens.
A Drunkorexia atinge mulheres entre 20 e 40 anos que ingerem quantidades cada vez maiores de alcóol e restringem as calorias na tentativa de manter o corpo magro. Nos EUA cerca de 30% das mulheres com dependência de álcool têm algum tipo de distúrbio alimentar e o alcoolismo, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) atinge cerca de 10 a 12% da população mundial. Ainda não há dados sobre a drunkorexia no Brasil, porém há dados que associam o alcoolismo feminino a transtornos psicológicos como bulimia, anorexia, ansiedade e depressão. O álcool se torna uma forma de anestesiar as emoções negativas e na busca por um corpo perfeito, a bebida é usada para reduzir a compulsão por alimentos e reduzir o apetite. Os efeitos do álcool amenizam os sintomas psicológicos e quando ingerido com o estômago vazio, o efeito é ainda mais rápido, tornando-se um “grande aliado”.
O álcool substitui o alimento sob a forma de “calorias vazias”, já que, apesar de ser uma fonte calórica, ele não é utilizado eficientemente como uma forma de combustível. Tanto a digestão como a absorção estão prejudicadas e observa-se déficit de tiamina, vitamina B12, ácido fólico, zinco e aminoácidos. O metabolismo fica alterado e afeta os micronutrientes como folato, tiamina, piridoxina, vitamina A, vitamina D, zinco, selênio, magnésio e fósforos. As consequências desta doença, portanto, serão consequencias destas deficiências com distúrbios nutricionais importantes com consequentes alterações orgânicas como arritmias, convulsões, doenças neurológicas, anemia, distúrbios menstruais, alterações da tireóide e alterações endócrinas. Portanto, além da perda de apetite, complicações como esofagite, gastrite hemorrágica, hepatite alcoólica e diabetes secundária podem ocorrer.O diagnóstico da anorexia nervosa é feito ao constatar alguns sinais e sintomas como recusa em se manter no peso mínimo ou acima do mínimo indicado para a altura e idade, medo intenso de engordar, distorsão da imagem corporal e alterações do ciclo menstrual sem outra causa; associado ao consumo de álcool em substituição dos alimentos.
O tratamento é feito com terapia comportamental e acompanhamento nutricional para controle das duas doenças associadas, o transtorno alimentar e o alcoolismo, que exige estratégias como trabalhos de grupo, reuniões do AA (Alcoólicos Anônimos) e avaliações clínicas para medir e tratar os prejuízos orgânicos do consumo.