Uma simulação apresentada pela Administração Nacional Oceanográfica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) indica que até 2030 a capa de gelo sobre o Oceano Ártico desaparecerá durante os verões originando uma queda maior nas temperaturas da Europa e acelerando o aumento nos níveis dos oceanos do mundo. Estes prognósticos foram sustentados pelo secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, que pouco antes das negociações de Copenhague assegurou que o “Ártico está se aquecendo mais rápido do que qualquer outro lugar da Terra”. Este alarmante aquecimento gerará mudanças ainda mais dramáticas no clima europeu no futuro.
Pouco antes das negociações de Copenhague, Ban Ki-moon visitou a base internacional de Ny Alesund (Noruega), onde pôde obter informação de primeira mão acerca do nível de aquecimento experimentado pelo Ártico. O executivo advertiu, então, que o Ártico é uma zona que atua naturalmente como um espelho e reflete o calor que recebe do sol, mas com o nível de degelo que sofre atualmente, esta região do planeta está absorvendo mais calor do que refletindo, acelerando o processo de aquecimento geral e debilitando a corrente do golfo.
Risco de queda
A corrente do golfo é uma corrente oceânica que leva a água quente desde o golfo do México até o Atlântico Norte. A circulação desta corrente permite que o norte da Europa conserve temperaturas mais amenas. A corrente superficial das águas do golfo aumentam em salinidade ao chegar nos mares polares, gerando uma massa de água fria e salgada que afunda e forma uma corrente no fundo do mar que atua do mesmo modo que uma faixa transportadores, levando a água fria para o sul.
Ao se introduzir uma maior quantidade de água doce no sistema (pelo derretimento do mar Ártico), tornaria o processo menos eficiente o processo de afundamento das águas da corrente do golfo, afetando todo o sistema e debilitando o sistema termo-salino. Em consequência originando invernos muito mais frios na Europa.
Javier Martín Vide, catedrático de Geografia Física da Universidade de Barcelona, explica que se o aquecimento global faz com que a corrente do golfo seja cortada, aconteceria um desajuste das correntes marinhas, provocando em duas ou três décadas uma mudança nas correntes e não chegassem as águas temperadas na Europa, portanto, em meio a uma tendência de altas temperaturas no planeta, na Europa seriam experimentados uma série de invernos muito frios.
Antecedentes similares
David Lund publicou um estudo na revista Nature no qual determinou houve um certo estancamento das águas e não foram levadas até o norte com a mesma força de hoje. O estudo indica que a corrente transporta aproximadamente 37 milhões de metros cúbicos por segundo e no século XVII perdeu ao menos 10% de seu volume de água e seu poder calorífico, dando origem a um pequeno episódio similar a uma idade do gelo que se estendeu entre os anos 1300 e 1850 com uma etapa crítica entre 1645 e 1715, estas últimas datas, além disso, coincidiram com o máximo de manchas solares. É importante ter em conta que foi previsto um novo ciclo solar entre 2011 e 2013 (Leia: Novo ciclo solar pode causar desastre econômico).
Alertas
Ban Ki-moon alertou aos governos do mundo antes da conferência de Copenhague acerca das mudanças que vem se produzindo no Ártico. O executivo indicou que o acelerado degelo da Groenlândia ameaça subir o nível do mar, com isso aumentaria a liberação de metano (um gás do efeito estufa 20 vezes mais potente que o CO2) do permafrost do fundo oceânico e, como indicamos anteriormente, o comportamento da corrente do golfo se modificaria.
São muitos os fatores que podem influir no clima da Europa nos próximos anos, somente um cuidadoso monitoramento e a coordenação de um sistema de alerta permitirão minimizar o dano de produzir uma mudança climática abrupta. O projeto Argo possui uma rede de 3000 robôs que monitoram as mudanças da corrente do golfo. Os pesquisadores que precisarem de informaçãos, a coleção de dados deste projeto pode ser conseguida a partis das instruções para acessar o sistema em: http://www.argo.ucsd.edu/Argo_Date_Guide.html
Video: Javier Martíns explica os efeitos a partir de uma interrupção da corrente do golfo (em espanhol).
Informações adicionais para pesquisadores:
Baixe a animação da evolução do gelo sobre o mar Ártico: http://www.nnvl.noaa.gov/MediaDetail.php?MediaID=83&MediaTypeID=2
Coleção de imagens de temperatura e salinidade em 2010: http://foro.meteored.com/printpage.html;topic=113171.0