Cenários de aquecimento estimados pelo IPCC.
Cenários de aquecimento estimados pelo IPCC.

Mudanças climáticas implicam em migração de ecossistemas e pessoas. Acompanhando o compasso do clima, numa dança embalada pelo El Nino e La Ninha nos últimos 12 anos assistimos aos acidentes naturais e a migração em massa dos serres vivos. O cientista Robert Hanner estima que para continuar em sua zona de conforto os ecossistemas terão que se deslocar quase meio quilômetro ao ano para seguir as transformações do clima. O estudo acrescenta que muitos ecossistemas, incluindo as espécies nele contidas, já apresentam sinais de deslocamento para uma adaptação às mudanças.

A dúvida é em que período essas mudanças acontecerão com regime de chuvas e temperaturas ideais?

Cientistas da Academia de Ciências da Califórnia com o apoio do Instituto de Ciências de Carnegie, Climate Central e da Universidade de Berkeley, tentaram responder a questão. Calculou-se, em média, que seria necessário um deslocamento de 0,42 km/ano.

O trabalho foi publicado na revista Nature em dezembro de 2009, e alerta que alguns ecossistemas de planície, como manguezais e desertos irão se mover (Vide Gráfico 1). A equipe calculou a velocidade das mudanças globais ao combinar dados atuais sobre o clima e regime de temperatura com as mais diversas projeções de modelos climáticas para o próximo século. O grupo se baseou em um nível intermediário de emissões de gases de efeito estufa (GEE), o cenário A1B de emissões do Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas – IPCC.

Sob essas condições, a velocidade das mudanças climáticas é projetada para ser mais devagar em florestas coníferas tropicais, subtropicais e em pradarias.

Já em áreas de planícies ao nível do mar a velocidade será bem mais acentuada (Vide Gráfico 1).

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Vulnerabilidade dos biomas

A vulnerabilidade dos biomas dependerá da velocidade das mudanças que eles irão experimentar e do tamanho das áreas de proteção onde eles se encontram. Pó exemplo, enquanto a transferência do clima nas áreas de desertos é esperada para acontecer velozmente, esta ameaça é minimizada pelo fato de que as áreas desérticas protegidas tendem a ser muito grandes. Por outro lado, o pequeno tamanho e a fragmentação das áreas de conservação para as florestas temperadas no Mediterrâneo e para as florestas boreais, fazem esses habitats serem bastante vulneráveis.

“Um dos principais benefícios deste trabalho é permitir analisar a atual rede de áreas de conservação será capaz de preservar realmente os ecossistemas”, afirmou Healy Hamilton, diretora do Center for Applied Biodiversity Informatics da Academia de Ciências da Califórnia.

Os estudos realizados em relação aos seres vivos não estão referidos a cada espécie em particular. Observou-se, porém, que animais e plantas que apresentem problemas de adaptação correrão sérios riscos de sobrevivência, pois não acompanharão a migração de outras espécies. A consequência prevista é a fragmentação dos habitats caso as mudanças climáticas ocorram ao longo das áreas preservadas. Segundo a pesquisa, apenas 8% das atuais zonas de conservação terão uma sobrevida de pelo menos 100 anos.
Fundo de População das Nações Unidas – Unfpa

O Unfpa fez um alerta para o risco do aumento das migrações por conta das mudanças climáticas. A estimativa é de que até o ano de 2050, ao menos 200 milhões de pessoas possam ter que deixar seus lares por conta da degradação do meio ambiente.

O Relatório sobre a Situação da População Mundial 2009 – lançado em Brasília e em outras 120 cidades no mundo, simultaneamente, pede ainda que os governos se planejem com antecedência na tentativa de reduzir os riscos de desastres naturais.

Para o representante da Unfpa no Brasil, Harold Robinson, é urgente que a questão das mudanças climáticas seja vista sob novo enfoque: o da relação entre clima, população e gênero.

O ponto central, segundo ele, é que as mudanças climáticas não são apenas questões sociais e ambientais, mas um grande problema humano provocado pela atividade humana. Robinson destacou evidências do aquecimento global provocado pelas emissões de gases de efeito estufa. Os 10 anos mais quentes foram registrados nos últimos 12 anos e os desastres naturais dobraram nas últimas 2 décadas, com uma média de 400 ocorrências /ano. “Há um impacto direto sobre o bem estar da população mundial”, avaliou.

O lamentável de toda a discussão sobre a mudança climática é que as piores consequências recairão sobre a população mais carente do Planeta que só contribui com 3% do total das emissões globais.

Carol Salsa – EcoDebate