Dinamarca acaba de inaugurar o maior campo de energia eólica offshore – instalado em águas – do mundo. O Horns Rev 2 entrou em operação em setembro e tem 91 turbinas, espalhadas numa área de 35 quilômetros quadrados no Mar do Norte.
Quando estiver em plena capacidade, produzirá energia equivalente ao consumo de uma cidade de 200 mil habitantes. O investimento, de 469 milhões de euros, representa a retomada dos grandes projetos em energia eólica na Dinamarca, o país que transformou o vento em alternativa para a geração de eletricidade limpa.
Horns está situado a 30 km da ilha de Jutland, uma das que formam o arquipélago da Dinamarca. Sua construção, um desafio por ser o mais distante da costa já erguido, é apresentada pelo governo como uma obra de arte da engenharia e envolveu 600 engenheiros e operários em dois anos de trabalhos. O campo de energia eólica offshore do país tornou-se o maior do mundo tanto em capacidade – produzirá 210 megawatts de eletricidade por ano -, quanto em número de geradores.
Além da grandeza da construção, suas turbinas, instaladas em 13 linhas de sete geradores, interconectados por uma rede de 70 quilômetros de cabos de fibra ótica, também são um feito em si. Fabricadas pela Siemens Wind Power, uma companhia dinamarquesa com capital alemão, são o que há de mais moderno já concebido pelo homem para a produção de energia com o vento.
Gigantes, têm entre 30 e 40 metros abaixo do nível do mar e até 114,5 metros de acima, considerando-se a extremidade da hélice mais alta. Para se sustentar no fundo de um mar arenoso e sujeito à erosão, cada uma foi erguida sobre uma fundação de toneladas de rochas, depositadas no fundo, em profundidades que variam de 9 a 17 metros.
Mais importante do que o feito de engenharia, entretanto, é seu significado para quem acredita em eletricidade limpa. Pioneira nos investimentos em energia eólica, a Dinamarca vivia desde o início da década um conflito político que vinha empacando novos investimentos. O governo liberal, hoje convertido pela necessidade de investir em desenvolvimento sustentável, julgava os subsídios públicos pagos à produção desnecessários – uma política que quase minou o negócio, cujas origens remontam aos anos 1970.
“Estamos vivendo um novo crescimento, agora não apenas impulsionado pelo mercado nacional, mas também pela Europa”, disse ao Estado Morten Holmagir, um dos diretores do Centro Dinamarquês Offshore, órgão que reúne as empresas que investem na tecnologia.
Know-How
O novo impulso vem do exterior, graças à competência dos dinamarqueses, que além de produzir cerca de 25% de sua energia com fontes renováveis são também exportadores líquidos de eletricidade. Desde que a nova “onda ambientalista” ganhou força, países como o Reino Unido, a Alemanha, a Suécia, a Holanda e a Bélgica estão investindo pesado na construção de campos em alto-mar, geralmente mais rentáveis do que os campos onshore, construídos sobre terra firme.
“Esses investimentos são ótimos, porque ninguém tem empresas fortes e know-how como os dinamarqueses”, diz Holmagir, lembrando 30 anos de pesquisas tecnológica.
Parte do sucesso precisa ser creditado a empresas que se converteram à produção e ao consumo de energia limpa. Uma delas é a Dong Energy, companhia fundada em 1972 para explorar óleo e gás, hoje responsável pela construção e administração do campo de Jutland.
“Horns Rev 2 é um marco importante na transição que a Dong Energy faz da produção de energia convencional para a verde”, afirmou em setembro ao The Guardian, Fritz Schur, diretor-presidente do grupo.
Os méritos também são divididos com universidades e centros de pesquisa, com administrações públicas e empresas privadas que apostaram no projeto, comprometendo-se a comprar a energia produzida, reduzindo em 10% seu consumo de eletricidade de fontes poluidoras, como o carvão.
“Se há um segredo na energia eólica na Dinamarca, é a interação peculiar que nossa indústria mantém com a comunidade científica e com a opinião pública”, diz Lars Landeberg, diretor-presidente da Academia Dinamarquesa de Energia Eólica (DWPA), de Copenhague.
Para o Estado, Horns representa uma alternativa energética que rende frutos econômicos concretos: as 180 indústrias de alta tecnologia do setor, proprietárias das 6 mil turbinas espalhadas pela Dinamarca, criam 20 mil empregos, respondem por 40% do mercado mundial, ajudam a exportar 90% da eletricidade produzida no país e geram cerca de ? 3 bilhões em divisas todo ano.
Além disso, estão na origem de uma estratégia de marketing valiosa a 50 dias do início da 15ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 15). “Horns é um importante passo à frente na nossa ambição de longo termo de nos tornarmos independentes dos combustíveis fósseis”, definiu Connie Hedegaard, ministro de Clima e Energia.
Enquanto o mundo discute cada porcentual de redução de emissões de CO2, o país já cumpre os objetivos negociados para 2020 e segue firme em direção às próprias metas: produzir 35% de energia limpa nos próximos 11 anos e 50% até 2025.
FONTE: Andrei Netto, no O Estado de S.Paulo.