O Centro de Biotecnologia e Terapia Celular do Hospital São Rafael, em Salvador, deu início na semana passada a um estudo pioneiro para testar a eficácia do uso de células-tronco adultas em pessoas com paraplegia.

As células serão aplicadas no local da lesão medular -em estudos anteriores, foram inseridas em uma artéria que irrigava a medula.

O objetivo da etapa inicial, da qual participam 20 voluntários, é testar a segurança do procedimento. Os pesquisadores, porém, esperam que já seja possível notar melhora na sensibilidade, nos reflexos e no controle dos esfíncteres dos pacientes.

“O problema do paraplégico é tão sério que, se conseguirmos uma melhora na qualidade de vida, com o controle dos esfíncteres anal e uretral, já será fantástico”, diz o coordenador de pesquisa, Ricardo Ribeiro dos Santos, da Fiocruz.

Em testes com cães e gatos foi possível notar melhora nesses itens em menos de um mês. Em quase metade dos casos, os animais recuperaram parcialmente os movimentos, segundo Santos.

O médico é cauteloso ao prever os resultados em humanos. “A expectativa não é de milagre”, diz. “Ninguém quer transformar ninguém em corredor de maratona.”

Na fase inicial, os testes serão restritos a pessoas que ficaram paraplégicas há pelo menos seis meses – a maioria por acidentes de trânsito.

A seleção de voluntários ainda está em andamento. Interessados podem enviar um e-mail para os pesquisadores (ticiana@cbtchsr.org).

Na semana passada, os quatro primeiros voluntários foram submetidos à coleta de células da medula óssea.

O material foi para um laboratório, onde a concentração de células-tronco vai passar de 1% para 99%.

Depois, uma cirurgia vai remover a cicatriz formada na região da lesão. Com a área livre, será feita a aplicação das células-tronco no local exato do trauma.

De acordo com Santos, o procedimento deve estimular o crescimento dos nervos lesados. Na cirurgia, o paciente receberá plasma sanguíneo rico em plaquetas. “Isso faz uma estrutura de coágulo que mantém as células-tronco no local da lesão.”

A pesquisa é feita em parceria com o Hospital Espanhol, a Fiocruz e o Centro Universitário da Bahia, com financiamento do Ministério da Saúde. Na próxima fase, os pacientes serão divididos em dois grupos para a comparação dos resultados.

SEGURANÇA

Para especialistas, o procedimento dessa pesquisa é mais seguro do que os feitos com células embrionárias, como o autorizado pelo governo americano em julho.

“As células embrionárias são mais eficientes, mas oferecem risco maior de tumores”, diz a chefe do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias da USP, Lygia da Veiga Pereira.

Santos ressalta que, às vezes, o processo de cultivo em laboratório também leva ao surgimento de células tumorais. Ele diz que a equipe está atenta a isso. “Nosso trabalho de monitoramento é muito cuidadoso para não injetar no paciente nada que possa lhe fazer mal.”

O sucesso com animais não garante resultados bons em humanos, diz Tarcísio Eloy Pessoa de Barros Filho.

Professor-titular de ortopedia da Faculdade de Medicina da USP, ele fez uma pesquisa que conseguiu melhorar a sensibilidade de 60% dos paraplégicos que participaram do estudo.

Nesse caso, as células-tronco foram injetadas em uma artéria que irrigava o local da lesão. “Como não marcamos as células, não dá para dizer quantas foram para a medula”, diz. “A ideia [de aplicar diretamente no local da lesão] é válida.”

Fonte: Equilíbrio e Saúde – Folha de São Paulo