O diagnóstico da asma induzida pelo exercício continua sendo um desafio a ser vencido. Isto, tanto do ponto de vista de hipótese diagnóstica clínica, quanto de investigação. Estudos mostram que 64% dos pacientes com diagnóstico estabelecido de Asma Induzida por Exercício (AIE) não tinham história sugestiva de asma, e mais ainda, tinham função normal ao repouso. Cerca de 20% das crianças que experimentam uma crise confirmada não reclamam de sintomas.
A importância da AIE sem diagnóstico ou com diagnostico equivocado fica demonstrada quando se observa que, crianças asmáticas que apresentam atividade física constante, rendimento físico comparável a crianças ativas sem asma. Enquanto isso, as crianças asmáticas sedentárias, apresentam significativa diminuição da performance ao exercício, em relação às crianças sedentárias sem asma.
Incidência
Considerando-se uma população atendida em serviços médicos com queixas pulmonares, encontrou-se uma incidência de 70% a 80% de sintomas induzidos por exercício. Em estudos em comunidade, esta incidência cai, pela maior presença de asmáticos leves. Fica claro que a resposta será influenciada pelas condições climáticas, alergias sazonais, severidade populacional de asma.
Etiopatogenia
O exato mecanismo da indução da asma pelo exercício, não está ainda totalmente esclarecido. Os estudos parecem indicar que existe uma alteração no do controle dos vasos parede brônquica interna (mucosa) associada a uma alteração no controle da resposta a adrenalina.
De uma maneira geral pode-se dizer que todo tipo de exercício, potencialmente, pode induzir broncoespasmo em pacientes com esta predisposição de hiperreatividade brônquica. Esta resposta será modulada pelas alterações de umidade relativa do ar (vapor d’água) e temperatura, afetando a intensidade (4). Quando o exercício é realizado em baixas temperaturas, sob baixa umidade relativa do ar, aumenta a incidência de broncoespasmo.
Vias Desencadeantes: existem duas teorias principais que concorrem para explicar o desencadeamento da asma induzida por exercício: a teoria da variação térmica e a teoria da perda de água pela mucosa. Variação Térmica: a hiperventilação que ocorre no exercício, principalmente sob baixas temperaturas, ocasionaria perda de calor pela mucosa respiratória para o ar exalado. Posteriormente, o re-aquecimento da mucosa ocasionaria um mecanismo vascular (dilatação dos vasos bronquiolares, hiperemia e edema), determinando a indução do broncoespasmo. Alteração de Osmolaridade: a alteração de calor e “dessecamento” na superfície da mucosa brônquica, ocasionada pelo exercício, desencadearia uma alteração osmolar.
Além do papel da variação térmica, ainda existem indícios de participação da ação direta do exercício na mucosa brônquica quer pelo resfriamento, quer pela ação mecânica da ventilação. O aumento do débito cardíaco e a sobrecarga de fluxo sanguíneo na mucosa brônquica também são fatores que podem ser considerados.
Diagnóstico da asma induzida por exercício
O exercício é um dos estímulos não-farmacológicos que podem induzir hiperreatividade brônquica e portanto, broncoespasmo. Inicialmente é importante que se faça uma distinção entre Asma Induzida por Exercício e um quadro de asma leve com exacerbação pelo exercício. Esta diferenciação é fundamental para programação terapêutica, já que quase todos os portadores de AIE têm função pulmonar basal normal, só requerendo terapêutica preventiva antes do exercício.
Por outro lado 40 a 90% dos indivíduos com asma apresentam broncoespasmo induzido por exercício.
Diagnóstico Clínico
A AIE é mais freqüentemente identificada em crianças e adultos jovens. Apesar de existirem exercícios mais associados à indução de broncoespasmo (ski cross-country, por exemplo), todo tipo de atividade física pode induzir crise asmática. Também devem-se considerar fatores ambientais (poluição, aero-antígenos, infecções virais) como moduladores da incidência da AIE. Como foi dito, em muitos casos, o exercício pode ser o único gatilho para indução da crise asmática.
Os sinais e sintomas da AIE não diferem das outras formas de crise asmática, exceto pela duração, que costuma ser menor. A maioria das pessoas apresenta recuperação espontânea 30 minutos após o início da crise, enquanto uma minoria requer terapêutica inalatória e suplementação de oxigênio.
Diagnóstico Funcional
Os distúrbios ventilatórios obstrutivos manifestam-se funcionalmente com diminuição dos fluxos expiratórios.
Teste de exercício
O teste de exercício (ou espirometria pós-exercício), é realizado com a comparação da dos teste de função pulmonar basal com os valores obtidos após após o exercício, de acordo com protocolo médico.
Avaliação de resposta: considera-se positiva uma queda de 10% nos parâmetros de função pulmonar. Considera-se que, pela própria fisiopatologia desta queda, sua maior redução se dará entre 5 e 15 minutos, após o fim do exercício.
Tratamento
Não é objetivo deste artigo abordar especificamente a terapêutica da Asma Induzida pelo Exercício. Resumidamente, podemos considerar as principais medidas terapêuticas como ações de caráter preventivo. Pode-se dividir as medidas preventivas terapêuticas em:
Medidas não-farmacológicas:
• Medidas ocupacionais: evitar ambientes poluídos (SO2), ambientes secos e frios, exercício em épocas de aero-alérgenos.
• Escolha do tipo de esporte ou atividade: mais leve (freqüência cardíaca menor que 70%, da máxima para idade), exercícios intermitentes, aquecimento (“warm-up”).
Medidas Farmacológicas:
As principais medidas terapêuticas medicamentosas (ß-2 agonistas inalatórios ß-2 agonistas de longa duração, Anti-inflamatórios inalatórios Corticóides inalatórios , etc) podem ser utilizadas como tratamento único ou combinado, e devem ser prescritas de acordo com avaliação médica, caso a caso.
FONTE: Dr. Wilson L. Pedreira Jr. via Portal Corpore