Um tema muito recorrente hoje é ferramentas e instrumentos para a gestão da liderança. Mas é possível enxergar um problema da vida profissional moderna, afinal a tecnologia parece ser um fim em si mesma. Vê-se por aí gestores com dificuldades de tirar os olhos de seus gadgets para simplesmente falar com as pessoas com clareza.

Isto acontece pela transferência das habilidades e competências humanas para o intermédio de ferramentas e discursos específicos. Por exemplo, muitos falam o “contabilês” ou o “administrês”, o “marketês” ou o “economês”, o que pode dar muito errado, pois muitos liderados podem não conhecer estas linguagens específicas e temendo perder seu emprego resolvem a questão respondendo no idioma universal do “hã-hã”.

Um dos grandes desafios da atualidade é encontrar líderes que possam se comunicar de forma objetiva, sem utilizar nada além de sua competência e persuasão, sem o intermédio de kpis, indicadores e widgets. Milhares de pessoas falham neste processo simples mas ao mesmo tempo muitíssimo complexo, de influenciar, mas sem estar remetido a nada, a não ser a si mesmo. A maioria se mostra tão dependente de um network tecnológico que acaba desaprendendo como lidar com quem é de carne e osso.

O filósofo Walter Benjamin dizia que a humanidade da era moderna perder a capacidade de narrar, de contar histórias, de entreter e motivar utilizando nada além de suas capacidades orais. A materialidade do pensamento industrial colocou em segundo plano o que o homem tinha de mais sólido, as possibilidades contextuais da narrativa. Assim desaparece o sujeito responsável pela transmissibilidade de tradições e experiências e fará restar apenas a transmissão de informações técnicas através de manuais e procedimentos automáticos, entidades frias que não nos tocam e se mantém distantes, impossibilitando a troca de aprendizados, a troca de experiências.

O veloz desenvolvimento tecnológico e a predominância da técnica acima do indivíduo cria uma barreira praticamente intransponível entre gerações, de modo que aquilo vivido por pais e avós não faz sentido para a vida pragmática de filhos e netos. Bastas ver as polêmicas em torno das gerações Y e Z.

Com a impossibilidade de narrar, morre junto a História. Nada se preserva, nem ao menos uma paisagem, tudo muda constantemente, sem avisos e sem o compromisso de cuidar dos rastros de nosso passado. Perdemos diariamente nossos referenciais e nos perdemos dentre um emaranhado de sistemas e valores não passam de mensagens corporativas. O que passou não importa mais, pois é apenas uma mensagem dentro de uma garrafa, um fragmento de um mundo longínquo que nada nos diz.

Assim, é óbvia a conclusão sobre a necessidade de estreitar os laços com seres humanos, não apenas para o crescimento empresarial, mas, antes disso para o crescimento do homem e isso acontece apenas, acredite, quando se está off-line! O líder deve mostrar sua condição humana, oferecendo não uma interface simpática para um interlocutor, mas um rosto amigo para uma outra pessoa. Uma história sempre apresenta inúmeras facetas que sempre ensinam algo para alguém, mas isso não parece interessar para quem detém colaboradores sob seu comando. Líderes devem ser contadores de histórias, devem ser narradores, pois as histórias reais são muito mais atraentes para as pessoas do que números, planilhas, gráficos e ladainhas do tipo “temos que bater meta” ou “precisamos nos posicionar no mercado”.

As pessoas se sentem mais tocadas por histórias do que por discursos prontos, extraídos do sistema, histórias oferecem mais do que uma simples meta, mas um sentido que justifique o esforço para alcança-la. As pessoas não seguem metas, elas seguem e lutam por ideias. Buscam entender, não apenas a tarefa mecânica a ser executada, mas o propósito do trabalho a ser feito e, principalmente, o nível de sua contribuição.

Desperte o interesse as pessoas de sua equipe, mostre sua importância no processo, não apenas os “passinhos” do processo. As pessoas são tocadas pelas intuição, ou seja, não reúnem somente o conhecimento ou a diretriz, mas o passado, presente e futuro numa abordagem imediata daquilo lhes é solicitada a atenção.