O Brasil é um “candidato” a bolha, por ser um dos países “mais quentes do mundo” em termos de atração de capitais, seja para investimentos e ações, seja para ganhos com os juros altíssimos do País. A visão é de Edward Amadeo, economista da Gávea Investimentos, gestora der recursos do Rio.
Por que o dólar despenca no mundo inteiro?
O começo da história é que os países com moedas tradicionalmente fortes no mundo, porque são reservas de valor, como o dólar, o euro e o iene, se beneficiariam muito com a depreciação das suas moedas. Nos três casos, é muito difícil se ver fonte doméstica de demanda. A forma de estimular a economia é melhorando as contas externas, isto é, exportando mais e importando menos.
Os três estão tentando a desvalorização?
O Japão e os Estados Unidos têm feito esforços nessa direção. O Japão com intervenções (compra de dólares), que até agora não foram bem sucedidas. Nos Estados Unidos, há o afrouxamento quantitativo, e um dos canais mais importantes pelos quais essa estratégia pode fazer efeito é justamente o de desvalorizar o dólar. O Banco Central Europeu é o único que não fez até agora nenhum esforço deliberado naquele sentido, embora a compra de títulos de países em dificuldades, como a Grécia, também tenha causado um período de desvalorização não deliberada do euro.
Como o resto do mundo reage a esses movimentos?
Os países asiáticos têm uma tradição de resistir à apreciação. Se você olhar para o balanço de pagamentos deles, entra dinheiro tanto pela conta corrente (comércio de bens e serviços, juros e dividendos) quanto pela conta capital (investimento direto e compras de ações e bônus). Se deixassem o câmbio flutuar, provavelmente teriam grande apreciação de suas moedas. E há um grupo de países sem nenhuma tradição de intervenção, como Canadá, Suécia, Noruega, Austrália e Nova Zelândia, cujas moedas têm apreciado uma enormidade.
E o Brasil?
O caso do Brasil é muito típico. É um país que está crescendo bem e tem juros muito altos. Atrai, portanto, muito capital, e agora está intervindo, tentando evitar o excesso de valorização. E essa valorização é uma coisa complicada, que não é mesmo para ser tomada com leveza. Não concordo com a ideia de que não se deva fazer nada e deixar o real se valorizar.
Quais os riscos?
Tem um efeito óbvio, que é o de aumentar muito a atratividade dos produtos importados, e provocar uma perda de competitividade dos produtores domésticos. Por outro lado, é um efeito deflacionário, que permitiria que o Banco Central reduzisse mais os juros. E há o risco de uma bolha de crédito e consumo. Da mesma forma, há o lado bom, que é o boom de investimentos.
O que fazer?
Há visões diferentes, e a do governo é a de botar areia na engrenagem do mercado de câmbio, com impostos, e a intervenção direta. Uma outra estratégia é produzir condições para a taxa de juros cair, e pelo menos este fator de atratividade diminuir. O governo tem em suas mãos de gerar mais poupança, reforçando as contas fiscais, e de diminuir o crédito dos bancos públicos, como BNDES, Banco do Brasil e Caixa. E é preciso ficar de olho, e eventualmente tomar medidas prudenciais, como compulsório ou até mesmo imposto, em relação ao aumento do crédito. O risco mais perigoso é o de uma bolha de crédito. No momento, por ser um dos países mais quentes do mundo, o Brasil é candidato à bolha.