template_cellA obesidade é um fenômeno a ser analisado em escala global, já considerado um problema de saúde pública nos EUA e Europa. Em razão disto, são crescentes as pesquisas que tentam identificar os potenciais riscos da obesidade à saúde. Agora, duas novas pesquisas associam obesidade ao aumento do risco de carcinoma hepatocelular e AVC.

A pesquisa “Dietary and Genetic Obesity Promote Liver Inflammation and Tumorigenesis by Enhancing IL-6 and TNF Expression”, publicada na revista Cell, de 22/01/2010, através de estudos epidemiológicos, concluiu que o excesso de peso ou obesidade está associada com maior risco de câncer.  O efeito mais dramático da obesidade, no risco de câncer, foi notado em uma forma comum de câncer de fígado chamado carcinoma hepatocelular (CHC).

Realizada por pesquisadores da Universidade da Califórnia, San Diego School of Medicine, liderada por Michael Karin, PhD, Professor Emérito de Farmacologia no Laboratório da UCSD, descobriu que a obesidade aumentou o risco de desenvolvimento do CHC, ao estimular fatores de induzem inflamação do fígado. Identificaram a produção de citoquinas – interleucina-6 (IL-6) e fator de necrose tumoral (TNF). A produção dessas moléculas sinalizadoras, que são elevadas em ratos obesos e em humanos, causa inflamação do fígado e ativação de uma proteína chamada STAT3, que, por sua vez ativa a formação e o crescimento do câncer de fígado.

O principal papel do TNF é na regulação das células do sistema imunológico, mas sua produção desregulada pode causar doenças como a artrite reumatóide ou doença de Crohn. Ironicamente, enquanto o TNF também foi testado para sua capacidade de combater o câncer, a sua produção crônica pode estimular o desenvolvimento do tumor.

O aumento real no risco de câncer depende do tipo de câncer e do índice de massa corporal (IMC). Como base, a pesquisa utilizou IMC 25, recomendado pela OMS índice saudável. A pesquisa identific que homens com IMC entre 35 e 40 o risco de câncer de fígado aumenta em até 4,5 vezes. Mas o efeito do excesso de peso aumenta o risco de todos os tipos de câncer, em 1,5 vezes nos homens e 1,6 vezes em mulheres.

A segunda pesquisa sugere que o grau de obesidade aumenta o risco de acidente vascular cerebral, independentemente de gênero e raça.

O estudo “Race-and Sex-Specific Associations of Obesity Measures With Ischemic Stroke Incidence in the Atherosclerosis Risk in Communities (ARIC) Study” foi publicado na revista Stroke, da American Heart Association.

Analisando os dados ARIC (Atherosclerosis Risk in Communities Study), estudo no qual indivíduos tiveram o IMC medido no começo do estudo, os pesquisadores acompanharam 13.549 , participantes, homens e mulheres, com idades entre 45 e 65 anos. O acompanhamento foi realizado entre 1987 e 2005 e os participantes, ao início do estudo, não tinham diagnósticos de câncer e/ou doenças cardiovasculares.

Durante o período de acompanhamento ocorreram 598 acidentes vasculares cerebrais isquêmicos. Os pesquisadores identificaram que a taxa de incidência calculada (o número de novos casos por 1.000 pessoas por ano), apresentavam variação, de acordo com diferentes graus de obesidade calculados de acordo com o IMC.

Eles descobriram que as taxas de incidência são substancialmente diferentes entre brancos e negros. Por exemplo, a taxa de AVC na categoria de baixo IMC foi de 1,2 por 1.000 pessoas/ano para as mulheres brancas e 4,3 por 1.000 pessoas/ano para as mulheres negras. A taxa, para o IMC em sua escala mais alta, foi de 2,2 para as mulheres brancas e 8,0 para os homens negros.

Ainda assim, de acordo com os pesquisadores, a correlação entre o aumento da incidência de AVC e o grau de obesidade foi evidente em ambas as raças e gêneros.

Os pesquisadores destacam a necessidade de novos estudos, no entanto, sugerem que os indivíduos com graus mais elevados de obesidade tendem a ter níveis mais elevados de pressão arterial ou a maior prevalência de diabetes, fatores estatisticamente associados à incidência de AVC isquêmico.

Quaisquer que sejam os eventuais tratamentos, é necessário reafirmar que a obesidade é um problema de saúde, com severos riscos e que, como tal, deve ser evitada desde cedo.

Mais da metade da população brasileira sofre com excesso de peso. O estudo Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), produzido pelo Ministério da Saúde e pela Universidade de São Paulo (USP), mostra que 43,3% da população estão com o peso acima dos níveis recomendados (sobrepeso) e 13% estão obesos.

Pesquisa feita na Universidade de Oxford com dados de 900 mil pessoas conclui que cada 5 kg/m² a mais no índice de massa corporal resulta em aumento de um terço na mortalidade.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera com sobrepeso as pessoas que estão com Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou acima de 25, e obesas as que têm IMC a partir de 30.

Neste caso, como em tantos outros, previnir é o melhor remédio.

Bibliografia(s)

  • Dietary and Genetic Obesity Promote Liver Inflammation and Tumorigenesis by Enhancing IL-6 and TNF Expression – Eek Joong Park, Jun Hee Lee, Guann-Yi Yu, Guobin He, Syed Raza Ali, Ryan G. Holzer, Christoph H. Österreicher, Hiroyuki Takahashi, Michael Karin Cell – 22 January 2010 (Vol. 140, Issue 2, pp. 197-208)
  • Race- and Sex-Specific Associations of Obesity Measures With Ischemic Stroke Incidence in the Atherosclerosis Risk in Communities (ARIC) Study – Hiroshi Yatsuya MD, PhD*; Aaron R. Folsom MD; Kazumasa Yamagishi MD, PhD; Kari E. North PhD; Frederick L. Brancati MD; June Stevens PhD; for the ARIC Study Investigators Stroke, January 21, 2010, doi: 10.1161/STROKEAHA.109.566299

FONTE: Henrique Cortez – EcoDebate