Dia Mundial da Saúde: Vamos falar de depressão

A OMS traz o tema da depressão para celebrar o Dia Mundial da Saúde em 2017. A professora da área de Saúde da FUNIBER, Dra. Silvia Quer, lembra que há maneiras de prevenir o transtorno

Com os casos de depressão em crescimento em todo o mundo, as causas, os diagnósticos e os tratamentos para os diferentes casos assumem mais importância. Estudos recentes, junto a opinião de especialistas como Peter Gøtzsche, cientista da Universidade de Copenhague, questionaram os efeitos dos fármacos para casos de depressão leves e moderados.

Assim, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decidiu trazer o tema para conscientizar os países em todo o mundo sobre o transtorno e ressaltar a importância de falar sobre a depressão. Para o Dia Mundial de Saúde 2017, celebrado hoje, dia 7 de abril, a OMS deu início a uma campanha com o título “Let’s Talk (vamos falar).

A iniciativa pretende ressaltar as formas de prevenção e também de cura, considerando que o transtorno pode levar a graves problemas para a saúde. Os programas na área de Saúde e Psicologia, patrocinados pela FUNIBER, oferecem a possibilidade de que os profissionais possam obter formação para dar o cuidado adequado à população e prevenir o desenvolvimento desta doença.

Apoiamos a campanha e entrevistamos a professora da área de Saúde da FUNIBER, a Dra. Silvia Quer, para saber como podemos prevenir a doença. A Dra. Silvia Quer é doutora em Psicologia Clínica e da Saúde pela Universidade Autônoma de Barcelona, também estudou Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde, e em Psicologia Geral Sanitária.

Dra. Silvia Quer, podemos prevenir a depressão, o que podemos fazer e de qual forma?

Sim, podemos. A depressão é de origem multifatorial. Os fatores de risco associados incluem o sedentarismo, o sobrepeso, a obesidade, o consumo de álcool e de drogas, a insônia, as doenças que debilitam o sistema imune, a baixa autoestima, o isolamento social, os problemas relacionados à inteligência emocional ou o estresse. A melhor maneira de prevenir é evitar estes fatores de risco, mantendo uma vida saudável que inclua exercício físico, dieta equilibrada e uma boa higiene do sono, assim como manter-se ativo socialmente, ter hobbies, reduzir o estresse e procurar estratégias para aumentar a autoestima e melhorar a inteligência emocional. Em suma, o cuidado é a melhor maneira de prevenir a depressão.

Na sua opinião, se ela pode ser evitada, por que é a principal causa de problemas de saúde e deficiência no mundo, segundo a OMS??

Administrar as nossas emoções e pensamentos não é nada fácil. Ao longo de todo o ciclo vital devemos enfrentar uma multidão de situações que podem nos conduzir a um problema de depressão. O modo como administramos os acontecimentos vitais (mudanças no trabalho, falecimentos, separações, nascimento de filhos…), somando aos fatores de risco associados a esta doença mental, determinará o desenvolvimento ou não de uma depressão.

O cientista da Universidade de Copenhague, Peter Gøtzsche (Næstved, Dinamarca, 1949), apela para a redução drástica do uso de fármacos contra as doenças psiquiátricas, o que você pensa sobre isso, Silvia?

Acredito que o uso de psicofármacos deve-se restringir aos casos graves de doenças psiquiátricas. No caso da depressão, restringiria o seu uso naquelas pessoas com depressões mais severas, crônicas, que podem incluir ideia suicida ou sintomas psicóticos. Nestes casos, acredito que seja conveniente uma combinação terapêutica que inclua psicoterapia e psicofármacos. Nos casos leves ou moderados de depressão, não acredito que seja necessário medicar, sobretudo, uma boa terapia poderá contribuir para que superem este transtorno. De fato, há muitos estudos a respeito, que demonstram que a medicação psiquiátrica para a depressão sem uma terapia psicológica é muito menos eficiente que um tratamento combinado ou que a terapia psicológica sem medicação.

Qual deveria ser o papel do psicólogo no sistema de saúde mental atual?

O primeiro problema que deve ser destacado é que há poucos psicólogos no sistema de saúde atual. Os governos devem considerar a necessidade da presença dos psicólogos nos sistemas de saúde atualmente. Hoje, o papel do psicólogo parece estar restrito ao tratamento e acompanhamento de psicopatologias. A gama de atuação do psicólogo deveria englobar a prevenção. Não é somente ser diagnosticado com uma psicopatologia para ser direcionado ao psicólogo. O papel do profissional deveria englobar todas essas pessoas que têm dificuldades para enfrentar uma situação que para elas é vivida de forma conflitante, como um obstáculo. O psicólogo pode ensinar a inteligência emocional, dotar de habilidades sociais, contribuir na valorização pessoal, etc., ou seja, dotar de ferramentas para que as pessoas saibam administrar de forma eficiente todos os  tipos de situações e pensamentos, e possam avançar em seu ciclo vital sem chegar a desenvolver um transtorno mental.

Quer saber mais sobre a depressão? A professora Dra. Silvia Quer recomenda o documentário La Gran Amenaza: La Depresión, disponível no YouTube. O vídeo integra o programa de televisão REDES, transmitido pelo canal 2 da Televisão Espanhola, e dirigido pelo escritor e divulgador científico Eduard Punset.

O que você opina sobre este debate? Levantaria alguma questão a mais? Quais aspectos você considera mais fáceis e mais complicados sobre o tema?